Esta malta da Guarda não perdoa. Uma dia ainda vão vir charters para a nossa Hollyhood portuguesa.

Aquela mata era uma espécie de orfanato, ninguém sabia de onde nascera, ninguém sabia porque nascera e diga-se, ninguém se importava por saber. Eram só dezenas de pinheiros ensimesmados, com a ideia fixa de terem existido juntos desde sempre. Unia-os a preserverança de em cada dia do ano trabalharem para um fim. Queriam chegar ao céu. Lutavam por cada centímetro que lhes oferecesse proximidade. Estavam tão perto, bastava crescer. À noite assustava-os reparar que o céu desaparecia, e nem por isso deixavam de se empenhar por subir. Sabiam que o sol havia de devolver esse céu pela manhã. Se chegava o vento pronto a deter o processo, os pinheiros não se queixavam, ás vezes até dançavam em tom de gozo.
Uma tarde de dezembro veio um homem. Tinha um machado. Cortou um pinheiro para enfeitar com luzes, bolas e muitas cores. Arrastou-o pelo meio das dezenas de outros pinheiros que em murmuravam, tu já não chegas ao céu.
Há quem se envergonhe desta campanha da DKNY. Há quem se enraiveça com ela. Porquê? Porque vemos no mesmo cartaz uma modelo com um fato de mais de mil euros e dois haitianos com ar (provavalmente não apenas ar) de fome. Porque isso é no mínimo é cruel. Eu acho que é dos retratos mais lúcidos do nosso mundo. Parabéns aos autores e autoras.
"It's just money.
It's made up, pieces of paper with pictures on it so that we don't have to kill each other just to get something to eat. It's not wrong. And it's certainly no different today than it's ever been: 1637, 1797, 1819,1837, 1857, 1884, 1901, 1907, 1929, 1937, 1974, 1987, Jesus.
It's all just the same thing, over and over. We can't help ourselves. And you and I can't control it or stop it or even slow it. Or even ever so slightly alter it. We just react. And we make a lot of money if we get it right. And we get left by the side of the road if we get it wrong. And there have always been and there always will be the same percentage of winners and losers, happy fucks and sad sacks, fat cats and starving dogs in this world."
Ontem à noite apanhei uma pessoa a falar sozinha no metro enquanto olhava para um saco de compras. Primeiro enumerou tudo o que havia comprado depois decidiu que era importante chamar nomes ás janelas, só por se ter esquecido da pasta de dentes. Parvoíce, pensei. Coisa sem nenhuma razão de ser, essa a de falar para o ar, no meio de um metro. Não se conhece quem vai ouvir. Não se sabe quem vai ligar. Não se adivinha o que vão pensar. No máximo, é um gesto inofensivo. Claro que podia não ligar, afinal, era só alguém a quem os pensamentos pesavam ao ponto de ter que despejar alguns pela boca. Sim, podia não ligar, talvez fosse apenas uma pessoa com a convicção de que se a pasta de dentes ouvisse, havia de fugir do supermercado, correr e saltar para dentro do saco (há tantas convicções estranhas por aí!). Podia não ligar, mas decidi partilhar isso aqui no blog. Faço-o sem conhecer quem vai ler, sem saber quem vai ligar e sem adivinhar o que irão pensar.
A Europa está em pulgas com esta cimeira, que dizem poder por um fim ao euro. O que seria terrífico. Ao mesmo tempo, as peças no jogo entre Irão, USA e afins continuam a mover-se (o Irão afirma agora ter abatido um engenho norte-americano), fazendo temer o início de um conflito capaz de sorver a humanidade. O que seria no mínimo mais chato do que voltar ao escudo. Depois anuncia-se uma banda nova num festival de verão qualquer e tudo se torna fantástico, os preços dos bilhetes pautam-se em euros e o mundo não pode acabar antes dos Radiohead virem a Portugal. E a mim, andando por aqui perdido no lado de fora do ecrã, o que me está a preocupar é a aula prática que vou ter ás 8h.