Fecho os olhos.
Já não consigo ouvir por mais tempo as máquinas e as alfaias lá fora a trabalhar sob o comando do abrasador Sol de Agosto.
O ruído de fora entrou, entrou-me e bloqueia qualquer pensamento que possa querer nascer.
Fecho os olhos para não ouvir.
Deitada num pequeno sofá verde aveludado e quente, ainda me lembro da minha vó contar a história do sofá chegado das Índias pelo meu tio-avô Cândido que enviuvou cedo, infurtúnio da vida,e de logo se entregou à família sobrante.
Fecho os olhos.
Não desejo estar aqui. É o barulho já disse, que me convida a sair.
Os primeiros segundos de penumbra assustam-me. Também não quero estar aqui.
Abro os olhos. Barulho de novo. Não.
Tento de novo o teletransporte da alma e mente para outro lugar, abandonando o corpo naquela sala onde coexistem apenas sofá e barulho. Sim, já nem eu me sinto na sala.
Começo a passear por memórias para assim encontrar o caminho das vontades e ir dar à praça do desejo e do sonho.
Passo por um lindo bosque, o cheiro a terra molhada hidrata-me o rosto que há muito sente os arranhos da vida que passa.
Esta sensação de frescura levou-me a continuar, penetro cada vez mais por entre os braços das árvores.
Subitamente, sinto sob os meus pés um tapete diferente. Se a suavidade e o toque terno que recebia do chão me tinham acompanhado até ali, a dureza dava-me agora as mãos.
Sou atacada pela frieza de um chão de pedra, duro, muito duro. Olho em frente e nada mais vejo se não um longo traço branco que se estende e toca o céu.
Era o tapete de pedra.
Segui, apesar do frio que sentia, dos pés subiu até mim, aquela rasto deixado por alguém ou algo. Estremeço com o frio, agora reconfortava o sofá do tio-avô Cândido, ao chegar defronte de um grande portão.
Só de o olhar senti o seu peso. De ferro era ele, velho, comido, de pose altiva e soberana sobre o traço branco que acabara de percorrer. E sobre mim mesma também.
Empregando toda a minha força sobre a argola do portão, um guincho de dor vindo das dobradiças faz-me arrepiar de novo.
Olho em frente e algo vejo.
Doze grande colunas, quais gigantes de contos infantis,se erguiam do chão e se esperguiçavam de forma sensual até ao céu.
Sobre estas seus capitéis enfeitavam-lhes o cabelo. E sobre estes ainda, repousando serenamente, um frontão recortado, adornado com a mestria de homens cuja beleza queriam atingir.
Por detrás deste conjunto, divinamente agrupado e conjugado, estava
uma porta, pesada também pelo que vi, desta vez de madeira.
Sem lhe chegar, sem lhe tocar, sem a sentir, senti que ali, por detrás da sua imponência, não ia encontrar ruído, máquinas, calor, aveludado ou verde sequer.
Ali ia encontrar o sítio pelo qual meu corpo buscou mas que apenas a minha mente atingiu.
Deixo-me então no sofá para caminhar em direcção à grande porta.
Não sei o seu nome. Não sei para onde me leva.
Mas sei que me convida a entrar.
(Texto escrito sob os olhos de uma imagem representativa de um tempo da Antiguidade Clássica para um teste de diagnóstico de Teoria da Arquitectura. A sua publicação foi decidida Sábado à noite numa conversa animada com a Mariana e o Fernando. A culpa é deles que me tentaram a publicar este texto que me fez duvidar da minha sanidade mental depois de pensar que tinha escrito o acima exposto num teste de faculdade...)
tu estás sã e bem sã e o texto está mesmo bonito =')
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarobrigada fernando!
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