quinta-feira, 21 de março de 2013

On quoting 'fulano tal'


‘—Porque como diz fulano tal, x não justifica y.’

Quando uma pessoa diz ‘…como diz fulano tal’ ela pode tanto pode querer dar um argumento de autoridade como não. É este último uso que me interessa aqui.

Citar ‘fulano tal’ — uma autoridade na matéria — tem a vantagem de assinalar o nosso argumento num contexto em que ‘fulano tal’, i.e., os argumentos de fulano tal são reconhecidos. ‘…x não justifica y’ mas de facto x poderia ou poderá justificar y. As razões pelas quais uma ou outra asserção é verdadeira depende de um argumento que decide entre as alternativas. 

A exposição das razões e do argumento podem ser longas o suficiente para valer a pena citar ‘fulano tal’, ou seja, assinalar o argumento que usaríamos tivessemos tempo e disposição. Citar é aqui atalhar. 

O nosso interlocutor pode ripostar ‘…mas o argumento de fulano tal sobre x e y depende da sua posição sobre z, que está errada.’ Aqui é preciso ter cuidado porque facilmente a discussão pode passar da verdade de asserções como ‘x justifica ou não y’ (e.g., de assuntos) a uma discussão sobre o que diz verdadeiramente fulano tal sobre x, y e z (de intepretação de autores). 

A discussão deve continuar no caminho dos assuntos e citação de fulano tal serviu para acelerar a discussão sobre x e y, indo directos ao ponto z. Os intervenientes devem continuar a discutir sobre a verdade de ‘x justifica ou não y’ a partir da verdade de z, assumindo que o nosso interlocutor concorda com o resto do argumento de fulano tal (caso contrário, bastar-lhe-ia dizer que o argumento de fulano não corre, é um non sequitur, ou que não apenas a posição de fulano tal sobre z, mas sobre k, l e m também, estavam erradas, etc. Para concluir, porque já explicitei o mais importante, uma comparação com stats:

Situação 1
—Mas sabes, na minha opinião x não justifica y…
—Ah não, porquê?
—Bem, porque imagina lá k, l e m — e também z. É que se eu estiver certo sobre estes, e se z for também verdade, então ∂, ou seja, x não justifica y.
—Ouve lá, eu concordo com k, l, e até posso admitir m. E sim, se z for verdade, então ∂* — se te percebi bem — e logo, x não justifica y. Agora, eu não concordo com z. Z é falso.
—Bem, quanto a z…

[86 palavras/411 caractéres.]

Situação 2
—Porque como diz fulano tal, x não justifica y.
—…mas o argumento de fulano tal sobre x e y depende da sua posição sobre z, que está errada
—Bem quanto a z…

[32 palavras/156 caractéres — notar que as frases iniciais e finais das Situações 1 e 2 tem o mesmo número de palavras e caractéres. Notar que apenas x, y e z repetem-se em ambas situações, porém, que k, l, m e ∂ stand for muitas palavras — k, l e m são asserções e ∂ o raciocínio pelo qual, dado k, l e m, e z, x não justifica y.]

Claro está que isto vale para qualquer discussão em que ‘x não justifica y’ seja relevante, i.e., seja ela o assunto em discussão ou parte de um argumento maior, sobre ‘o Homem, a Sociedade ou o Estado’ [sic].

Existem ainda outras vantagens de citar fulano tal para reforçar a boa condução de uma discussão mas que dependem de características mais psicológicas (e.g., o interlocutor não atribui a asserção ‘x não justifica y’ à mera opinião do seu interlocutor — ou ao contrário, é mais audaz na sua resposta porque está ciente do peso dos argumentos de fulano tal — ou outros ainda). Em todo o caso, para além de depender de características mais psicológicas, estas vantagens prendem-se com o uso da citação como autoridade, que me excluí de discutir aqui.

Não excluo também pontos fracos que possam estar associados, sistematicamente ou não, às vantagens que mencionei. E tenho dito, podem citar.

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