Começa com
Saudade o manifesto. Com maiúscula, a Saudade, não o manifesto porque se há
manifesto de Quem Fica também pode haver de Quem Foi. Este é meu. Só o
manifesto. Fui eu Quem Foi. Outra vez.
O dia de
Quem Foi, começa sempre com o desejo incessante de estar perto de Quem Fica.
Outras vezes, de Ter Ficado. Bom, na verdade não são poucas vezes que isso
acontece. Hoje começou mais longe, mas já começou perto noutros dias. Melhor
era se Quem Foi conseguisse trazer Quem Fica, em especial D’ela. Afinal, a
saudade também é minha e não é só o manifesto.
O Quem Foi é
um sujeito difícil de entender, compreender e aceitar. O pior disso tudo, é que
ele sabe disso. Não que ele seja assim tão diferente da maioria das pessoas,
mas porque ele é complexo e imprevisível. Ele é um viajante e não um visitante,
que isso é outra espécie bem mais previsível, que é normalmente adotada por
aqueles Que-Vão-Só-Um-Bocadinho. O Quem Foi é um vagabundo que se move por
coisas que Quem Fica não entende ou têm dificuldade em aceitar. É um espírito livre
que decide ir e vai. E vai sempre. Vai porque não suporta simplesmente não
suporta não ir. Mas sempre que vai, ele tem saudades. D’ela. Porque ele também
já foi Quem Foi por causa D’ela. Mas também de Quem Fica.
O Quem Foi
corre atrás do sonho incerto e desconhecido que a única coisa que sabe é que
quer ser perseguido, porque na verdade ele ainda não sabe mais nada, mas o que
tem graça é perseguir. Colecciona pessoas, memórias, momentos e bilhetes, no
geral. Umas vezes vai de mochila ás costas, deixa crescer a barba, viaja no que
houver, come o que houver, dorme onde der. Outras vezes, vai de trolley todo pimpão de avião, só
desconfortável pelo conforto do fato. A mochila e o trolley vão sempre cheios de saudade, mas também levam alguma
roupa. Ás vezes, o Quem Foi anda perdido, vive com o pensamento solitário
porque está quase sempre só, mas sabem-lhe bem os momentos em que está acompanhado
por outros Que Vieram ou Estão de Passagem. Já não conhece o tempo certo e detesta
o fuso horário. Mas o ir tem muitas outras coisas boas.
Para já, não
sabe responder por quanto tempo Foi ou vai ficar. Se Quem Fica pode preparar um
café para a espera ou preparar uma vida inteira. Aqui no Brasil, o Quem Foi
descobriu que uma das boas coisas da vida é Parcelar. Parcelar os momentos, as
experiências de vida, as etapas, os projetos pessoais, as viagens, ah e o seu
pagamento. Há tempo para tudo. Porque pagar a débito é demasiado precoce e vazio,
mas por outro lado, se o crédito acumula a chance de dar asneira é alta. Parcelar
nem é assim tão mau, e talvez devêssemos todos parcelar, ser Quem Foi alguma
vez na vida. Como um dia escrevemos: “depois dos sessenta, já só se tenta”.
Agora é tempo de Quem Foi. Só não queria parcelar a saudade D’ela. Dois a Ir
tem muito mais graça.
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