Facto número 1: estou de momento em Erasmus em Paris por isso perdoem-me
desde já mas o assunto não poderia ser outro.
Facto número 2: se há coisa em que os franceses não são de todo receptivos é à
língua inglesa e, infelizmente, o seu interesse por ela é igualmente nulo.
Facto número 3: o bizarro cenário que é ter uma aula de inglês, em faculdade
francesa, com professora americana é, acreditem, uma sórdida combinação. Passo a
explicar.
Foi preciso chegar aos meus 23 anos para voltar a ter uma aula onde um belo lote
de lápis de cor é absolutamente necessário. Confesso que nos seis anos estava bem
preparada. Agora, nem tanto.
Estou no meio de uma sala onde a grande percentagem de alunos, diga-se a
percentagem total de franceses, tem um nível de inglês básico, chocante na verdade.
Mas isso pouco importa. Tudo o que é preciso naquela aula é pintar um mapa de
Nova Iorque. Só isso, pintar um mapa, dividi-lo por distritos e pintar. Nada mais
numa hora e meia. Julie, a professora americana, vai falando, e mesmo que os seus
alunos não saibam nada de inglês garanto que vão sair daquela aula a dizer “fucking”
perfeitamente! porque a Julie tem o dom, ou simplesmente o vício, de o dizer uma vez
em cada três palavras.
Na verdade, não poderia acreditar que uma aula destas pudesse acontecer se não
estivesse lá. Senti-me verdadeiramente a ser tratada como uma ignorante, como se
estivesse numa espécie de ensino especial ou num grupo de pessoas com défice
mental. Pintar mapas as nove da manha não é, de todo, a minha praia.
O debate sobre a qualidade de ensino é uma coisa absolutamente transversal e,
ainda que perceba que a situação não se passa a nível nacional, se há coisa que me
indigna são situações como esta: aulas inúteis, professores que por muita simpatia
que tenham para dar não conseguem ver que quem ali está para ser ensinado vai
sair da sua aula com absolutamente nada. A exigência do ensino é algo a preservar.
Estudantes universitários a serem tratados como meninos da primária é meio caminho
andado para o embrutecimento da nação.
Ou talvez esteja a menosprezar a boa vontade da Julie em ensinar o caminho direito
para Central Park, não se dê o caso de eu ir a Nova Iorque nos próximos tempos…
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