quinta-feira, 25 de junho de 2009

momento musical 1959-2009

Estudar compensa

Recentemente, o Ministro Mariano Gago reuniu-se com os deputados da Comissão de Educação, naquele que foi o último encontro do tipo da actual legislatura. Fez das palavras "em Portugal, estudar compensa" hino e bandeira de um relatório por ele escrito e lido, em que, obviamente e como se esperava, o cor-de-rosa com que pintou o Ensino Superior em Portugal ocultou os factos mais negros.

Estudar em Portugal compensa e muito tortuoso seria se assim não sucedesse. Espero não ver o dia em que estudar não passe de um completo desperdício de tempo e de dinheiro. Neste cenário, quem almejaria comprar uma licenciatura por mil euros anuais, como simples objecto de adorno?
Entendi o porquê de tal congratulação quando li o que pretendia, na realidade, dizer o Sr. Ministro: estudar em Portugal compensa, e quem o diz são os 8,2% de licenciados no desemprego, referiu.
Do relatório não constavam os 47 mil licenciados (dados de 2007) dispostos a tudo, a desempenhar tarefas de baixa qualificação, em empregos apelidados precários, porque, de facto, esses estão empregados. Atrevo-me a dizer que deles não se obteria resposta doce aquando lhes perguntassem se estudar em Portugal compensa.
Outro aspecto que sobressai do relatório do Sr. Ministro é a argumentação de que existiu uma ampla discussão em torno de um Processo de Bolonha e de um Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Sou novo no Ensino Superior, mas em tempo de secundário, RJIES pareceu-me algo semelhante a uma colher de sopa dada a uma criança, a qual, por muito que discuta ou faça birra, terá sempre que engolir.
Mais ainda, foi dito que o financiamento ao Ensino Superior é idêntico ao da média dos países da OCDE, situando-se nos 1,4% do PIB. Não contesto. Ainda assim, não deixo de ter inveja de países como França, Dinamarca, Grécia, Alemanha, Suécia, Dinamarca, onde, apesar de serem países pertencentes à OCDE, não se paga propinas. Inveja que culmina com o sentimento reconfortante de que talvez, nesses tristes países, estudar não compense.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Comunidade Internacional

Ontem, Obama veio pela primeira vez condenar a opressão iraniana e homenagear os manifestantes. Não apoiou, no entanto, directamente a oposição, afirmando o respeito pela soberania do Irão e afastando veemente qualquer citação falaciosa de que os EUA estão a intervir no processo.
Dois diplomatas Britânicos foram recentemente expulsos do Irão e, em resposta, dois diplomatas Iranianos foram expulsos de Londres. Ali Khamenei, líder supremo, referiu-se à Grã-Bretanha como o mais traiçoeiro inimigo do Irão.
Por outro lado, e no ponto diametralmente oposto à sensatez e inteligência, Lula da Silva comparou a "oposição iraniana a uma torcida de futebol perdedora".

Preparam-se as peças, no jogo de xadrez que vai em marcha.

A Internet

Os iranianos não são apenas amordaçados na rua. O governo Iraniano já soube colocar sofisticados sistemas de bloqueio à saída de informação por via da Internet. Tudo o que saí para fora do país é seleccionado.
O Wall Street Journal, denunciou a parceria levada a cabo entre Siemens e Nokia, na criação de um sistema sofisticado de espionagem e censura, a actuar em material informático.
Felizmente, tal ainda não é concretizado a 100%.

A batalha que não se faz nas ruas

Ali Rafsajani, não tem em falta competências (e, julgo eu, vontade) para se sentar no trono de Líder Supremo. Já fora anteriormente presidente e é o fundador da República Islâmica do Irão. Apoia, como referi, Mousavi. É importante recordar também, que Rafsajani foi o candidato derrotado em 2005 por Amhadinejad, numas eleições também elas pintalgadas de suspeitas de fraude.

O actual líder supremo, Ali Khamenei, não encontra razões (nem, julgo eu, vontade) para sair do poleiro. Condena os protestos e tem uma mão no ombro do candidato vitorioso.

A luta por um cargo, transcende as competências de umas eleições presidenciais.

A batalha que se faz nas ruas

O número de mortos já ascende a mais de 70.
A repressão policial feroz torna os confrontos físicos violentos. A voz da revolta tenta ser à força calada, por uma opressão que cada vez mais galvaniza os protestos.
Num jogo da selecção nacional, alguns jogadores entraram em campo com pulseiras verdes, em sinal de protesto. O acto simbólico valeu-lhes a expulsão da selecção.
Recentemente foi morta a tiro Neda Agha-Soltan. Tinha 26 anos e vídeos dos últimos momentos da sua vida podem ser encontrados no Youtube. O seu noivo já disse que nem sequer estavam presente nas manifestações. Encontravam-se numa fila de trânsito e Neda saiu do carro. Tinha calor. Foi atingida por uma bala no coração.

A teia política iraniana

O sistema político do Irão perde-se num emaranhado de hierarquias. No topo, o líder supremo Ali Khamenei, ostenta o poder de decisão sobre todos os assuntos do estado. É a este que se deve a nomeação do Conselho de Guardiões e do Conselho de Discernimento além dos directores dos meios de comunicação social, chefe dos sistema judicial e altos-cargos das forças armadas. É uma das peças fundamentais do tabuleiro onde se jogam os protestos.
O Conselho de Guardiões escolhe os candidatos ás presidenciais, ao Parlamento e à Assembleia de Peritos, órgão que supervisiona o líder supremo.
Ao Conselho de Discernimento e à Assembleia de Peritos, preside Ali Rafsajani, visto como o segundo homem mais poderoso do país. Outra das peças fundamentais no jogo.
O líder supremo Ali Khamenei, aprovou rapidamente o processo eleitoral, dando luz verde (passo o trocadilho) a Ahmadinejad para ocupar o cargo de presidente. Ali Rafsajani apoia a causa de Mousavi, o candidato derrotado.

O papel de cenário

Em 2005, Mahmud Ahmadinejad, o Engenheiro Civil que protagoniza a discórdia nas ruas do Irão, obteve divinamente, 62% dos votos, vencendo o seu oponente e dando por completo uma volta face aos resultados obtidos na primeira ronda de votações onde perdia com 19% dos votos, contra os 21% de Rafsajani (seu adversário). Suspeitou-se de fraude eleitoral, e pela suspeita se ficou.
Nas eleições do presente ano, Ahmadinejad repetiu a proeza e foi re-eleito, por vias cuja legalidade e transparência só Deus ou outro qualquer líder supremo o sabe. O seu opositor, Mousavi, pinta de verde e sede de justiça os protestos que se fazem sentir, dentro das fronteiras impostas pela opressão policial e/ou estatal.
Em 50 cidades, há mais votos que eleitores e os opositores de Ahmadinejad, nem nas suas províncias de origem conseguiram a vitória.

Irão

Tantas mentiras se vivem lá para os lados do Irão, que seria imbecil não ter A Mentira uma palavra a dizer. Sem querer cair em conflitos ideológicos ou crises de identidade, desta e só desta vez, irá A Mentira tentar averiguar e proclamar a verdade pela qual morrem pessoas nas ruas de Teerão.

segunda-feira, 1 de junho de 2009