quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Bom Rapaz

A história do bom rapaz é engraçada.

Ele queria, como o sol quer o dia,
devorar à dentada, o pescoço da sua amada.
(Mas mais nada!)

(Assustada, ela não quis.
Não quis fazer o rapaz feliz.)

Ele tentou, tal e qual um acrobata
lamber a sua querida omoplata.
(Mau, precisava de um degrau?)

(Confusa, ela recuou.
E o bom rapaz até chorou.)

Ele insistiu, fez-lhe uma cantiga:
e pediu um beijinho na barriga.
("Esclareço:Não subo, nem desço!")

(Atrapalhada, ela não disse nada.
E o bom rapaz continuou.)

Ele implorou, de joelhos, à janela,
por uma festinha na canela.
(Gesto bonito, admito.)

(Aborrecida, foi buscar uma bebida.
E o bom rapaz nada bebeu.)

Por fim, coitadinho,
(depois de tentar cheirar o mindinho)
Levou a derradeira sapatada,
(ficou com a alma desolada.)

Foi tão grande a crueldade
Que mesmo bondoso, sem maldade,
(Sem um pingo de má vontade!)
vingou-se com o coração cansado,

Valente! Enfrentando todos os perigos!
no Hi5, tirou-a dos melhores amigos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Identidade Pornográfica

Mais que questões eleitorais, freeports, discriminações homofóbicas ou tumultos sociais, tenho vindo a constatar que o país se depara com uma temática emergente e transversal ás anteriores, que tende a assumir contornos catastróficos: a procura de uma identidade pornográfica.

Em curto espaço de tempo o Ministério Público censurou uma sátira carnavalesca ao Magalhães, sátira que consistia na apresentação de uma série de imagens (supostamente) pornográficas no monitor de uma representação do dito equipamento informático. Um dia após, o Ministério Público recuou e cortou a etiqueta que catalogava de impróprias e pornográficas as tais imagens. Pouco tempo depois, a PSP mandou apreender um conjunto de livros de uma feira, alegando que as suas capas continham conteúdo pornográfico. Um dia depois (e onde já foi visto isto?) a PSP recuou e lá permitiu a exibição e venda dos tais livros.

A questão é séria e peca (infelizmente) por ser pouco explorada nos midia. Tenho para mim que a pornografia está na base da confiança e contentamento da população, por motivos ancestrais e inerentes à própria noção de homem/mulher. Querem então confundir os nossos (dos portugueses) sentidos sexuais e baralhar as nossas opiniões aos assuntos mais devassos.

Talvez, num futuro próximo, sejamos de tal forma privados da imagem de um bom par de mamas que nos vejamos forçados a obter diversão em orçamentos de estado, códigos do trabalho e regimes jurídicos que (desculpem-me a brejeirice necessária ao trocadilho) só nos fodem a vida.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Na vanguarda

Não esperava que nos visitassem por outros motivos que não os que levam no bico interesses estritamente sexuais.

Relatório da Academia (I)

Neste momento, estão empatados (2 óscares cada) os filmes Quem quer ser bilionário? e o Estranho Caso de Benjamin Button.

Vou apostar no filme Indiano para grande vencedor da noite.

Dada a actual conjuntura económica, quem iria preferir um filme onde se nasce velho (e logo sujeito a uma imensidão de burocracia e incertezas quanto ao ganho da reforma) a um onde o título é Quem quer ser bilionário?

Minipreço

Já não apanhava um susto assim desde que o Oscar Cardozo marcou o segundo golo do Benfica, feito que de positivo teve apenas o espicaçar de um jogo do tipo “mais-do-mesmo” com o a vitória Leonina a revelar-se mais quotidianamente monótona do que surpreendente. Bem, tudo fica bem quando acaba bem. O tal susto, esse passou-se por volta das duas da tarde na fila do Minipreço, quando após ter pisado os calcanhares de uma certa senhora com o carrinho de compras, ela se vira para trás (de sorriso maroto nós lábios) e diz: Deixe lá, não há crise. Estava eu distraído com a simpatia das formas adelgaçadas dos bolsos traseiros das calças da dita cuja que não dei conta do meu desastrado atropelamento. E logo, estranhei o seu comentário: Não há crise????!! (pensei). De coração acelerado lá demorei uns dois minutos a interpelar a sujeita: Desculpe? Não há crise? Respondeu, docilmente: Pisou-me com o carrinho das compras, idiota. Ah bom, suspirei, mais descansado.

De facto, nesses dois minutos tudo me passou pela cabeça, num pânico não aconselhável a cardíacos. Orgulho-me de trabalhar numa empresa de penhores e mais, de ser funcionário qualificado e dedicado num McDonalds. De facto, sou empregado do mês de ambas as instituições e eram vários os prémios que havia ganho, dado o volume de tarefas levadas a cabo nas minhas duas ocupações. Tais prémios valiam-me uma certa sustentabilidade económica, além de serem pretexto de admiração pelos meus parceiros de póker nas quintas à noite... Parceiros desempregados, que viam no jogo a derradeira tábua de salvação orçamental (apostando claro está, o abono de família dos seis filhos).

O que seria do meu conforto, caso a crise desaparecesse? Que bens iria ter a felicidade de penhorar, com a frequência com que hoje o faço? Quem iria dar 5 euros por um Big Mac (além de rápido, barato) com refeições (um conceito antagónico a Menu) no balcão do lado, tão mais caras quanto saudáveis? Pior, quão ridícula seria a minha presença na fila do MiniPreço, caso a crise tivesse acabado? Não, pior, que iria eu fazer quinta à noite, se os meus prezados companheiros de jogo recuperassem o emprego? Tenho a certeza que sou o único a jogar por prazer... E não sei do que gosto mais... Ganhar dinheiro, congratular-me espalhafatosamente pelos meus triunfos profissionais ou apenas sentir o desespero dos outros.
Sim, assustei-me.

Ainda bem que o fim da crise, é mentira.

Para ti, Maria

Boa noite. Olá eu sou o João. O teu nome é…?” (Frase 1) Isto é como começam as grandes conversas de quintas, sextas ou sábados à noite em que uns três copos de gin já não te deixam ficar embasbacado, mesmo que arrastes a voz. Começa sempre por ai, e depois segue-se aquela conversa entediante que ninguém gosta realmente e quem fica para a ouvir é só porque quer nada mais que contacto físico (Estritamente físico). Pensei na “One night stand” como o vício do tabaco – Uns fumam porque lhes dá prazer, ou facilmente os relaxa. Outros fumam de vez em quando, quando estão já com os copos, lá para o meio da noite. Outros, simplesmente, não fumam e acham repugnante quem o faz. Mas o normal são aqueles que até querem fumar, mas não conseguem sequer acender o cigarro. Eu acho que sigo a norma. Bem, mas vamos à Maria: A Maria é uma qualquer miúda quase tão bêbeda como o João (Atenção! Utilizo João aqui só por ser um nome tão vulgar quanto Maria) e se passeia sorridente pelas luzes psicadélicas de um espaço qualquer que nos frita os tímpanos com musicas acima dos 100 db. O João vê a “moça” e parte numa heróica jornada. (Frase 1). Resposta: Eu sou a Maria. Entretanto trocam-se meia dúzia de palavras, um quartilho de sorrisos e uns nanogramas de charme (com gin no sistema, não dá mais do que isso) e após o tédio vem a parte boa – O Beijo. O Beijo a uma completa desconhecida é encarado por mim como a 1ª vez que vemos nevar naquele ano. Não é que estejamos pouco habituados à neve, ou nos lembremos durante a vida quando aconteceu, não. É só porque quando está a cair é sempre bonita, mas quando chega ao chão acontecem uma de duas coisas: ou permanece no chão até ficar rígida e húmida, tal e qual o gelo, ou derrete assim que bate no asfalto ou o calcário do passeio (e cada um dorme na sua respectiva cama). E toda a gente sabe que o vulgar é a neve derreter assim que chega ao chão.
Isto é um suponhamos: Então suponham os leitores que a neve pega e até enrijece! Como é que vão tirar o carro amanha de manha quando se levantarem para ir trabalhar? Bom, ou não vão e ficam na cama o dia todo a apreciar a bonita paisagem ou tentam raspar com toda a força o gelo do para brisas e rezar que o carro não deslize naquela subida matreira que vai da central ao hotel. Basicamente se o prazer carnal foi suficiente para os dois desconhecidos há a capacidade para se manter na casa de quem quer que seja a deambular em roupa interior. Se tudo não passou de um fiasco enorme e de um desperdício de látex acho que o que muitos de vocês fariam seria raspar o gelo do para brisas e dizer um até qualquer dia com um beijo na face e esperança que o carro se aguente na subida.

“Isto é para alguém especial!” - Afirmam os leitores. Eu digo que é Mentira. É só mais um texto de estereótipo para uma miúda qualquer que se quer engatar para não nos sentirmos tão sós quando acordarmos lá para às duas da tarde com um hálito horrível a acetona, porque bebemos umas cervejas a mais.

PS: O caso entre o João e a Maria nunca resultou. O sexo até foi bom, e repetiram e lambuzaram-se, mas ele era Moche, 96, Tmn; ela era Extravaganza, 91, Yorn.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Pornograficas?

Bem, foi recebida no centro de coordenação de relações públicas português do blog A Mentira um pedido de desculpas formal face aos acontecimentos de dia 19, acontecimentos tais que ejaculavam um certo odor a censura. No remetente constava um qualquer nome identificador de um alto-cargo do Ministério Público que disse sentir-se tocado e comovido com o anterior post do presente blog.

"Depois de feitos, o melhor é cobri-los", era a frase que uma tia minha dizia quando fazia uns deliciosos bolos com pepitas de chocolate. Pareceu-me uma frase que se coaduna com os erros do Ministério Público.

Desta vez, passa...

Mais informações, visitar o site do Carnaval de Torres Vedras

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Eu juro senhor, não vou dizer mal do estado


Não sei porquê, há dias em que nos pomos a pensar no que seriam certas coisas caso imperasse o domínio de outras tantas. (estava o caro leitor a pensar que este blog não era vago).


Concretamente, hoje, tive o privilégio de ir em boa companhia a um café e pedir qualquer coisa (ah bom, coisas concretas). Passado cinco, dez minutos a prezada trabalhadora do estabelecimento trouxe, em vez do pedido materializado, uma frase que me marcou e mudou o rumo da minha vida: "Peço desculpa, o que tinham pedido? O que uma tosta não faz..." Sim, tosta havia sido o motivo do fatal esquecimento. De logo me surgiram múltiplas interpretações acerca do motivo de uma tosta ser responsável por tamanha dispensa de capacidade neuronal da pobre. Pobre, que tem Liberdade para errar de quando em quando e eu, que tenho Liberdade para documentar os seus erros, e com eles fazer trocadilhos comicamente pertinentes (vulgo, gozar). Ironias e brincadeiras à parte, o acontecimento não teve grande importância, e não estaria aqui, tivesse este blog coisas mais importantes para relatar... E é com enorme agrado que reparo que neste blog há Liberdade para falar do que quer que seja, por mais insignificante ou por mais agressivo que seja. E voltamos à questão inicial, o que seriam certas coisas sem que imperasse o domínio de outras tantas. O que seria das tantas Liberdades em cima, se ainda imperasse o domínio de uma mão temivelmente opressora?


Hoje (dia 19), o Ministério Público ORDENOU a retirada de uma brincadeira em torno do Magalhães, no Carnaval de Torres Vedras.


Pelo sim, pelo não, aqui pel'A Mentira, os posts vão passar a ser comedidos. É um blog demasiado jovem para ser marcado a tinta Azul (tinta característica da censura ante-25-de-Abril, hoje caiada de Rosa).



domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Verdade (1)

- Bebemos mais um?
E beberam. Queriam descobrir de vez o que era a verdade. Já tinham tentado, mas o risco é enorme, e precisavam de coragem e protecção. O Aníbal quase que descobriu outro dia. Exaltava na cara roxa e suada a expressão de quem está prestes a descobrir um dos sentidos da vida, a expressão de quem sabe que está quase a fazer história, a derrubar o muro da ignorância Humana e a ficar mais próximo de Deus… Mas teve um AVC, e agora tem a boca torta. Já não vai ao café. Alguns dizem que tem vergonha. Mas eu e tu sabemos… o velho Aníbal não gosta de beber de palhinha.
O Aristóteles, o mais safado e velho de todos, não pára com a velha malandragem de sempre.
- A verdade é como fazer sexo em pé: às vezes eu gosto, mas cansa.
A sua Rosa Maria apanhou-o na Mentira. Também, velho Aristóteles, eu sei que nunca é nada do que os outros pensam no momento, quando vêm a roupa e o fogo espalhados pelo quarto, mas não precisas de ter pressa.
- Não é nada do que estás a pensar! Eu estava só a experimentar roupa para o casamento da tua prima Maria Tulipa! E a experimentar os teus perfumes de mulher! E a fazer flexões! Vês? SwarzSTRONG! Bolas! Esqueci-me de vestir. Ah, pois, porta do armário encravou. Éh, encravou. Não! Não abras! Não está lá ninguém!
Agora era pessoal, para o Aristóteles.
Havia também o Periquito.
Periquito: - A verdade é uma mulher feia, gorda e coxa…
Uníssono: - A Maria de Lurdes Rodrigues?
O Periquito era o filósofo do grupo. Porém, o mais moderno: 5 empréstimos no banco, e trabalhava num Call-Center. Mas via na sua vida uma estranha forma de satisfação. Acreditava que fazia as pessoas felizes por comparação: todos os outros telefonemas que as pessoas recebiam eram muito mais interessantes. Ying-Yang. Ele oferecia o equilíbrio interior em suaves prestações sem juros, e tarifários mais adequados especialmente a si. Mas queria mais, mais Verdade na sua vida. Ninguém se contenta com a Mentira. Pff, freak.
O pescador imigrante, James McFlurry, já ia no quinto Whisky. Não falhava uma reunião, mas ninguém sabia ao certo porque ele se sentava naquela mesa, horas a fio, para descobrir a Verdade. Não falava Português, e ninguém o conhecia.
Não descobriram a Verdade hoje, mas tenho a certeza que vão voltar a tentar. Existe a vaga esperança que talvez ela surja no fundo de um copo, ou escrita na parede da casa de banho, por baixo de um número de telefone a oferecer sexo. Ou nas legendas de uma piada Monty Python, daquelas não tão engraçadas.
Não faz mal. Há sempre mais um dia para descobrir.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

And the sign said long haired,freaky people need not apply

(rabugice) Crónica

Foi publicado no dia 10 de Fevereiro o documento relativo aos ante-estatutos do IST, faculdade que tenho o privilégio de frequentar. Esta alteração estatutária foi necessária e desencadeada pelo novo RJIES (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior), protocolo este que alem de diminuir a representatividade e poder dos alunos, abre os palcos das decisões internas das universidades a personalidades públicas (exteriores à instituição) e torna as faculdades susceptíveis de serem transformadas em fundações, processo que visa a atracção do investimento de capitais privados .
Do que já se antevia, veio a confirmação: bem menos representatividade estudantil no órgão central de gestão: de 30 (estudantes) num universo de 75 passa para 2 num universo de 15. Feitas as contas, de 40% de alunos evoluímos (sim, nem toda a evolução é benéfica) para 13%. Conselho Geral, foi a designação que veio substituir a anterior Assembleia Representativa.
Além disso, requereu a minha atenção um artigo, por razões que vou de seguida tentar explicitar. Diz o artigo 3, ponto 2 e) : “O IST procura contribuir para a competitividade da economia nacional através da inovação e da promoção do empreendedorismo”.
Talvez me chamem ingénuo. Talvez me digam que na realidade é esse o papel camuflado das universidades e seja eu um triste alienado. Talvez teime em viver num mundo de sonho onde, no meu ver, as universidades se tratem de instituições que tenham como primordial papel a construção de pessoas culturalmente evoluídas e criativas (dando a estas os conhecimentos, ferramentas e bases necessárias à sua auto-realização pessoal e profissional) e não a construção de protótipos mecanizados mentalmente limpos, codificados para produzir riqueza. Talvez o estado não dê mais apoios a “conservatórios nacionais artísticos” e universidades focadas no estudo de ciências sociais porque…, porque não produzem os mais qualificados profissionais em dar riqueza ao país. Sinto que se criar um programa que facilite a utilização de caixas de multibanco por deficientes visuais a universidade iria ficar triste comigo, não sendo esse um artigo de considerável rentabilidade nacional (os estatutos farão o obséquio de não me fazer esquecer o meu papel). Talvez seja mesmo ingénuo. Ou talvez seja apenas rabugento. Ou ambos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Knorr: caldo de Burnout

Quase que apetecia um canto em jeito de vénia nobre, meu nobre Fernando. És extraordinariamente anormal. E vais na carruagem dos que ficam.
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Quisemos mais um. João Valente Jorge. Apaixonado de profissão. Com aversão a frases curtas, a explicações ligeiras, em jeito de brisas passageiras. Poeta portanto, com grande encanto. Um metro e meio, dois mamilos num só seio. Bom rapaz. Vamos ver do que é capaz:
"Knorr: caldo de Burnout Facto: O suicídio é a principal causa de morte entre os profissionais de saúde. Dizem os peritos que isto é tudo devido ao excesso de stress a que os nossos curandeiros estão sujeitos. Chamam-lhe “burnout”. Queimam os médicos, os enfermeiros e até senhora que prepara as deliciosas paparocas de hospital. Queimam-nos com faíscas de trabalhos forçados, com orçamentos reduzidos, com celibatos de 24 horas e ainda querem que o SNS funcione! (O SNS não funciona se continuarmos a pedir tanto à senhora do refeitório…).

Que é uma triste realidade, é verdade - conviver com a morte e com a moribundice todos os santos dias… E chegar a casa ter que cozinhar para a solidão porque o amor e o social fugiram enquanto andava aos amassos com o estudo (É mentira!). Lá estão outra vez os peritos a dizer que isto tudo é impulsionado por múltiplos factores dos quais me chamou especial atenção um que dizia: Ambiguidade e conflito de papéis. Ora, onde é que está a ambiguidade e o conflito de papéis entre o médico e a senhora Rosa que faz aquelas fantásticas águas com sabor a knorr caldo de legumes? Ambos nos dão “caldinhos” e “mixórdias” de sabor horrível. Ambos nos baralham com termos difíceis (O medico diz: O principio activo é Fosfoenolpiruvato; A Sra. Rosa diz: Bote isso pela goela abaixo, até ao bandulho.) Então como é que os Chô Tores subsistem sabendo que a Rosa da cantina faz o mesmo que eles mas em vez de bioquímica usa regionalismos? Bom, acho que é por aprenderem lições de vida com o doente moribundo da cama do meio do quarto número 7 da ala de psiquiatria… Ou será que é por salvarem o sorriso da velhota que sai com uma cicatriz no peito?
Os que não conseguem arrancar sorrisos matam-se.
Eu digo que é tudo mentira. Para mim é só a forma mais fácil que arranjaram de escapar a um mundo de tramóias e falecimentos no corredor. Podiam tirar uns dias de férias, mas preferem o descanso eterno – mandriões!"
PS: Mais um feliz mentiroso suicida. Afinal, somos todos iguais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Carruagem dos Iguais

Eram perto das oito da noite e estava num comboio. Estava a correr bem, a viagem. Sem fome, sem sede, na companhia de um qualquer livro. Ás páginas tantas, encontrei uma frase que mereceu a minha reflexão. Leviana ou não, tal cisma impeliu-me a olhar para a direita e lá estava ele. Lugar 21, mesmo na minha diagonal, a respirar o ar de toda a gente. Julguei ter visto mal, mas disfarçadamente lá passou da dúvida à certeza, que o indivíduo ali tão perto, piscava os olhos duas vezes em cada ciclo de piscadela. Como não reparou o revisor? Aliás, como conseguiu ele bilhete para um transporte dito público (entenda se por público, de gente normal)? Enfim, não era uma aberração que me ia estragar a leitura, mas o ser acabou por motivar que tivesse trocado tempo despendido a ler, por tempo em conversa com o homem sentado junto a mim. Velho, aspecto conservador, confirmou as minhas notas de primeira impressão: a vida havia-lhe cravado a bom cravar as chagas características da imunidade e intolerância ás monstruosidade da sociedade, tal e qual como a que em cima documentei.
Disse-lhe eu:
-Também viu?
Sussurrou com os dentes fechados de raiva:
-Mas alguém é capaz de num ver aquela merda? Não há respeito, o mundo tá fudido.
E cuspiu ainda alguma palavras embrulhadas em palavrões. Acrescentou:
-Estão em todo o lado. Alguns cabrões disfarçam bem e chegam alto na vida. A mim nunca me enganam... Se apanho algum dia um sozinho, parto lhe os cornos todos. Não quero saber se é da puta da genética ou se faz aquilo porque gosta.
Acenei, concordei. Continuei a leitura. Estivemos calados durante cinco minutos. Quando voltei a desatar os olhos do livro, já o anormal do lugar 21, que piscava os olhos não uma mas duas vezes, havia saído. Tal não foi, no entanto, motivo de regozijo para o meu parceiro, cujas preocupações pareciam agora estranhamente colar-se a mim. Havia ódio e desdém nos seus olhos, que pude comprovar fixamente até que o indivíduo se levantou bruscamente. Minutos depois regressou, fazendo-se acompanhar pelo revisor. Este último brandiu silenciosamente mas com violência:
-A sua carruagem não é aqui!
Acompanhou-me então ao que disse ele ser o meu lugar. Era uma das últimas carruagens, pelo aspecto, a mais degradada. Lá dentro havia vinte pessoas, no lugar que seria apertado para quinze. Por cima da porta, podia ler-se numa placa:
Carruagem para os que acompanham a leitura com o dedo.

PS (1) O ridículo mora ao lado, e era bom, bonito, talvez (infelizmente) utópico que morresse quando e onde morrem as metáforas.
PS (2) O próprio papa nomeou para bispo auxiliar um tal senhor da igreja que defendeu convicta e publicamente que o furacão Katrina foi uma praga divina para irradicar a homossexualidade de Nova Orleães.
PS (3) Ascendeu ao cargo de primeira ministra da Islândia, Johanna, homossexual assumida. Triste, que esteja em notícias televisivas, jornais e num post deste blog pela sua orientação sexual e não pela sua (comprovada) capacidade política.


A diferença existe, sim. Haja respeito.

País à beira mar, mal estacionado

Sentimos por vezes necessidade de abrir o nosso coração e deixar nele entrar pessoas que cobiçamos fazerem parte das nossas vidas. É o que acontece quando as hormonas deixam de ser sub-reptícias e vão fazendo das suas. Pois, paciência... Aqui, pela Mentira, não foi necessidade que sentimos, foi goludice. E pela gulodice (perdoem nos o pecado), fomos obrigados a abrir as portas deste blog, a um rebuçado embrulhado em prespicácia e boa disposição que é o David, o nosso mais recente e primeiro a vir a público, colaborador.
Fica aqui a sua primeira (de muitas) pincelada:

"Nada como ligar a televisão um dia à hora de jantar, e ver o desastre de viação que o nosso novo D. Sebastião, também conhecido por Cristiano “das Bolas de Ouro” Ronaldo (1º, 2º e 3º lugares, uma bola por cada um) teve. Aquele “toquezinho” que o seu latinhas, (da modesta marca italiana começada por F e acabada em ari) recebeu, muita assustadiça gente sobressaltou, passando mesmo no nada sensacionalista canal 4 uma comparação ao trágico acidente da doce Lady Diana, que tal como o nosso CR7, muita tinta fez correr nos tablóides britânicos.

Este tipo de acontecimentos, põe muita gente a pensar, a crise que isto iria trazer, a este pequeno país, ao qual muitos chamam de rectangular, caso o nosso Puto Maravilha tivesse feito, nem que fosse, o mais pequeno corte por baixo do braço ou partido a unha do dedo mindinho do pé esquerdo. Muito possivelmente alguns de vocês bateram três vezes na mesa de madeira, e cuspiram para o chão só por ouvirem tal blasfémia.

Mas pegando nas minhas palavras em cima escritas, caso essa catástrofe tivesse acontecido, nada melhor que seguir o discurso de optimismo do nosso Primeiro (que coitado anda com as orelhas quentes graças à perseguição dos nossos media acerca de um pequeno espaço nas proximidades de Alcochete que de um dia para o outro passou a pertencer aos nossos amigos Ingleses) do qual consta a sugestão de segurar os postos de emprego de várias fábricas com leves somas de dinheiro, incluindo fábricas da industria automóvel. Mas ele esquece-se que neste país o único que tem dinheiro para comprar esse tipo de viaturas é o nosso Campeão Cristiano, e caso ele não tivesse sobrevivido (desculpem mais uma vez fortes seguidores do Cristinianismo) já não haveria ninguém para comprar, nem sequer uma Zundap. Isto para não falar de outro banco que teria de receber uma sobrecarga monetária, para além do banco PN. Ao B. Espírito Santo, nem o próprio nome o salvaria, nem mesmo o seu maior investidor, o famosíssimo Génio da bola.

Bem, resta-nos fazer como os dançarinos de tango daquele país chamado Argentina, e tal como eles criar uma religião com base no seu herói nacional, os Maradonianos, que tal como Maradona escapou miraculosamente a uma overdose, também o nosso Menino escapou miraculosamente ao espalhafatoso acidente." David Leal do Nascimento