domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Verdade (1)

- Bebemos mais um?
E beberam. Queriam descobrir de vez o que era a verdade. Já tinham tentado, mas o risco é enorme, e precisavam de coragem e protecção. O Aníbal quase que descobriu outro dia. Exaltava na cara roxa e suada a expressão de quem está prestes a descobrir um dos sentidos da vida, a expressão de quem sabe que está quase a fazer história, a derrubar o muro da ignorância Humana e a ficar mais próximo de Deus… Mas teve um AVC, e agora tem a boca torta. Já não vai ao café. Alguns dizem que tem vergonha. Mas eu e tu sabemos… o velho Aníbal não gosta de beber de palhinha.
O Aristóteles, o mais safado e velho de todos, não pára com a velha malandragem de sempre.
- A verdade é como fazer sexo em pé: às vezes eu gosto, mas cansa.
A sua Rosa Maria apanhou-o na Mentira. Também, velho Aristóteles, eu sei que nunca é nada do que os outros pensam no momento, quando vêm a roupa e o fogo espalhados pelo quarto, mas não precisas de ter pressa.
- Não é nada do que estás a pensar! Eu estava só a experimentar roupa para o casamento da tua prima Maria Tulipa! E a experimentar os teus perfumes de mulher! E a fazer flexões! Vês? SwarzSTRONG! Bolas! Esqueci-me de vestir. Ah, pois, porta do armário encravou. Éh, encravou. Não! Não abras! Não está lá ninguém!
Agora era pessoal, para o Aristóteles.
Havia também o Periquito.
Periquito: - A verdade é uma mulher feia, gorda e coxa…
Uníssono: - A Maria de Lurdes Rodrigues?
O Periquito era o filósofo do grupo. Porém, o mais moderno: 5 empréstimos no banco, e trabalhava num Call-Center. Mas via na sua vida uma estranha forma de satisfação. Acreditava que fazia as pessoas felizes por comparação: todos os outros telefonemas que as pessoas recebiam eram muito mais interessantes. Ying-Yang. Ele oferecia o equilíbrio interior em suaves prestações sem juros, e tarifários mais adequados especialmente a si. Mas queria mais, mais Verdade na sua vida. Ninguém se contenta com a Mentira. Pff, freak.
O pescador imigrante, James McFlurry, já ia no quinto Whisky. Não falhava uma reunião, mas ninguém sabia ao certo porque ele se sentava naquela mesa, horas a fio, para descobrir a Verdade. Não falava Português, e ninguém o conhecia.
Não descobriram a Verdade hoje, mas tenho a certeza que vão voltar a tentar. Existe a vaga esperança que talvez ela surja no fundo de um copo, ou escrita na parede da casa de banho, por baixo de um número de telefone a oferecer sexo. Ou nas legendas de uma piada Monty Python, daquelas não tão engraçadas.
Não faz mal. Há sempre mais um dia para descobrir.

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