terça-feira, 31 de março de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

banalidades

" Querida, fofa, como vai a menina? sente-se, tomamos já um café!"
ela sustem-se. porra, tanto tempo sem a ver e logo hoje que ela tá atulhada de trabalho decide aparecer. Pronto, só um café.
"Claro quiduxa, nem eu tomaria mais! Mas conte, onde vai a menina?"
reuniões, trabalho, estava atulada, nem sabia por onde começar.
"Mas a menina anda metida na política?"
É, também. agora até andava com uns problemas com a direita.
"Ah, nem me diga, eu também. olhe que ando no ginásio há meses e parece sempre que a perna direita está um pouco mais flácida, não sei que será. Mas diga-me, como vai o seu marido?"
vai bem.
"bem quida? que é isso? confiança! anda a desprezar a cama...."
Não, na verdade até estava grávida.
"NÃO!"
sim, tentaram durante meses e
"Que burrice quiduxa, que foi fazer??!!??"
ora tia, era um sonho..
" Um sonho, tá a gozar comigo linda! então acha que isso a vai fazer feliz?"
claro
"Tá doida amorzinho! Olhe para si, vai ficar um elefante!"
ora, por amor de deus tia
"Oh mas é claro que sim!"
silêncio
"Já sei, vai abortar!"
ora tia
"É a única solução. votei sim no referendo porque acho que todas as mulheres têm direito a ser lindas a vida toda!"
ora, que disparate
"não é nada amor, vai ver se ele gosta de si depois, vai ser adultério de certeza!"
"Aborto, agora mesmo, a menina vem comigo à clínica e é hoje!"
levantou-se, estava muito feliz, obrigada!
e saiu
"ora, temos uma coisa tão útil como o aborto e desperdiçamos o direito que até o estado nos dá. pobrezita. quero ver como vai reagir quando a amante sugar o dinheiro todo do marido."

p.s: conversa de minuto e meio que ilustra o vazio do pensar de três quartos da população portuguesa. o quarto restante funciona a meio gás. para aí dez devem merecer uma performance 100%. espero um dia poder aumentar esse nº =P

domingo, 29 de março de 2009

Lugares Comuns(I)

Adoro histórias de lugares comuns, inevitáveis, cinematográficos. Cenários absolutamente previsíveis - cliché, sabem?


- O Arranha-céus

Absolutamente incrédulo, a Teresinha olhar de tão alto os Homens, seu cão Jeremias e aquele ceguinho que curtia o barulho, o calor, e a agitação de estar no meio da multidão histérica. – Porquê ela, a pobre Teresinha? Perguntavam-se em uníssono. O cão ladrava, e o ceguinho perguntava pela menina, embora nunca a tivesse visto mais gorda. (E nem mais magra, claro). O Padre implorou em altifalante, Madalena sua mãe teve 3 AVC’s em 15 minutos, o ex-namorado mentiu – afinal descobriu que gostava de homens, sim, foi por isso Teresinha. Ninguém queria que Teresinha voasse daquela maneira. Mas ela queria, e abriu as asas. As sirenes tocaram em câmara lenta, sabem? Os clássicos NÃO ecoaram, as mãos levantaram-se para os céus – Agarra-a Jesus! – Até se ouviu algures. Mas Ele devia estar ocupado, na sanita, sei lá, e logo Teresinha aterrou. Mesmo em cima do ceguinho. Engraçado não é? Ele só queria estar quentinho, e ter um pouco de atenção. Morreu aparando a queda da exibida da Teresinha, garota mimada. Se fosse minha filha levava uma sova…


- A Varanda

É óbvio que o Martins não ia passar o fim-de-semana em Cucujães com os velhos. Já se penteava com um gel verde, de aparência bastante radioactiva, e usava as calças no fundo do rabo. Um Homenzinho da nossa geração. Foi estudar para a varanda. Foi ler para a varanda. Foi ver a paisagem na varanda. Pronto! Foi mandar mensagens para a varanda. E deu-se ali encarcerado, 2 horas depois, quando procurou entrar para carregar o aparelho. Sem intenção, e sem saída. Primeiro pensamento: já não ia haver hambúrgueres, como tinha planeado. Viveu que nem um animal, 2 dias inteiros. Bebeu a água que choveu 3ª Feira, contorcendo a língua nos cantos sujos do chão de azulejos, jantou os rebentos de tulipa que surgiam no canteiro, sempre, na primavera. Armadilhou o parapeito da varanda, e conseguiu caçar 2 pombas. Uma devorou, assada com o isqueiro que tinha no bolso, com penas bem torradas, e temperada com umas ervas que ia fumar – não tinha paciência nenhuma, aquele rapaz. A outra chamou de Juliana a conversou com ela sobre o último episódio de Morangos com Açúcar. Dormiram por baixo da mesa, e de manhã o Martins arrancou-lhe as asas e preparou o pequeno-almoço para os dois. Ela não quis, estranhamente, e ele zangou-se, chamou-a de puta e mandou-a da varanda. Depois arrependeu-se, mas às vezes é tarde para isso.


- O MacDonald’s

O clássico, o predilecto. Aquele que penso sempre, que me ri baixinho por dentro.

É claro que tem que estar sempre uma fila tremenda. Hipótese: Crianças em excursão, uma tribo de cabeças de acne a prepararem 400 tabuleiros de 400 happy-meals e cocas-colas ridiculamente pequenas. Aquele dia em que questionamos, porra, porque se chama fast-food? E depois de todos os preliminares repetidos 3 vezes, finalmente me perguntam, quando a cabeça já orbita em torno da ira do ego – “Senhor, vai pagar com dinheiro?” – Ai, que vontade de responder – “Não senhora, com galinhas.”

como perder tempo a falar dele

Acabei de adiantar o relógio uma hora. Custou, assemelhou-se demasiado a uma hora que ficou por viver. Talvez não tenha sido tão penoso e seja apenas poético dize-lo. Em todo o caso, dá que pensar, quanto não darei mais tarde, por esta hora que se perdeu numa simples aritmética de arredondamento burocrático.
Falta tempo a toda a gente (incluindo à selecção, no jogo de hoje).

Aos mendigos desse Chiado, malabaristas de porta de igreja ou guitarristas de escadas de metro, tenho-lhes a inveja. Invejo-lhes a coragem, e cobiço-lhes o tempo. Se tempo é dinheiro, talvez sejam eles os mais ricos. Gastamos o tempo de uma vida a lutar para ter condições de gozar sei lá eu que outro tempo. Eles, simplesmente saltam o meio e gozam (aspas, na generalização de gozam) logo o fim. (gostava de não usar tanto a palavra tempo, mas faltam-me os sinónimos.)
Filosofias à parte... o tempo está em todo lado. Para meu espanto, descobri numa cadeira de física deste semestre, que o tempo está mais na distância do que julgamos. Nada de melodramatismos do tipo "falta tanto tempo para estarmos juntos outra vez querida"... Simplesmente, descobri que o metro se mede com base no segundo. Pois, um metro é, dizem eles, a distância que a luz percorre no vácuo em 1/299.792.458 segundos. Engraçado...

sábado, 28 de março de 2009

já leram kafka? talvez não. ou então sim e tudo o que diga agora pode soar um pouco mais familiar.
Li metamorfose, por curiosidade, por cliché, porque ver um livro assim, abandonado, velhinho na prateleira dá pena. não vou dizer que foi sacrifício, mas devo confessar que também não foi alegria nenhuma. metade de tudo o que ali havia eu suprimia. quanto à outra metade, bem espremidinha, resumia a quatro linhas ( um jeitoso parágrafo de um grande escritor, bem condensado). é, pode-se dizer que foi como pensar em kafka como cozinheiro: pegou num pacotinho de 10 gramas de pó amarelo, misturou água e fez dele um gigantesco pudim mas, neste caso, em versão literária.

mesmo assim continuo a achá-lo aquilo a que se pode chamar um must read. se morrerem sem ler uma dúzia destes todo e qualquer mortal se deve achar incompleto...
mas voltemo-nos para o agora. não muito para ver, quase nada para acompanhar. vivemos num boom livresco em que de mil livros editados talvez um valha mesmo a pena e outro dê para levar de férias e ir lendo três linhas por dia antes da sesta...

ah, acresce o problema das páginas. quando dão um livro a alguém o que é que se pensa? "quanto maior melhor, para parecer caro!" e quando se compra um livro?
"quanto mais pequeno melhor, para ler depressa..."

Olá kay

A Catarina já nos havia brindado com um belo exemplar da sua produção literária. Agora, vem oficialmente reforçar, as até então inexistentes, fileiras femininas deste blog. A sua presença irá por na linha os propósitos mais devassos da nossa escrita, na certeza de que, doravante, estamos na presença de uma senhora.
Na sua camisola, consta kay. Assinou contrato de três épocas, mais duas de opção. A sua cláusula de rescisão dava para pôr um marcha a trás no pedido de insolvência da Papelaria Fernandes. Joga a ponta de lança, e com ela, o ataque do blog está forte, muito mais forte...

quarta-feira, 25 de março de 2009

eduquem-nos


Hoje é dia do estudante. Ou seria, se não passasse já da meia noite. Pormenores horários à parte, o blog empobreceria se não houvesse da sua parte uma palavra a opinar acerca estado da educação, das instituições e do estudante...
Será bandeira e hino deste post, o pressuposto: A educação, mais que um meio para atingir um fim, é a base e estrutura a partir da qual se erguem os alicerces da sociedade. Talvez palavras demasiado perfumadas para dizer que a educação é “importante cumó caraças”...
O processo educativo molda os indivíduos de forma a encaixar e serem parte integrante de um colectivo. Colectivo esse que será a mão de obra activa, e, daí, legislador e executor das directivas que visam reger toda a linha de orientação da população. (Como em democracia se sabe, todo e cada um é parte de tal colectivo. Logo, esse colectivo não é mais que toda a própria população.) Neste sentido, julgo que é óbvio antever, que o que se pode esperar da sociedade daqui a vinte ou trinta anos, não é mais que o reflexo do que hoje em dia se adquire nas instituições de ensino. Tenho medo, medo que tais anos vindouros sejam a selva competitiva que me parecem ser hoje as universidades. Medo que se estejam a criar protótipos robotizados única e exclusivamente moldados para um determinado fim, demasiado específico, de onde, de tal especificidade, demasiado drástica, não reste espaço ou capacidade para ter um olhar crítico (e porque não criativo) acerca de temas que fujam um milímetro ao espectro para o qual se foi programado. Não sei se me agrada mais a evolução tecnológica desmesurada (fruto de tal especialização da população, é certo), ou uma evolução humana, cultural, cívica, no fundo, mais sustentável.
O segundo ponto, se é que já houve um primeiro, será acerca do acesso ao ensino superior. Falo do que sei, ou antes, falo do que atravessei. É puro engano sucumbir ao facilitismo em detrimento de simples estatísticas. As boas estatísticas, essas deveriam recair sobre a qualidade de ensino e os conhecimentos efectivos do aluno e não, ser utilizadas como instrumento demagógico ou sinal do “está tudo a correr ás mil maravilhas”. Falo concretamente dos exames de acesso ao ensino superior. Talvez fosse boa política seleccionar os alunos pelo seu esforço e rendimento escolar e não tanto pela capacidade (ou falta dela) económica para prosseguir nos estudos.
Seria indispensável falar sobre Bolonha. Seria sim... Peco por não estar tão bem informado assim acerca do tema. Julgo que essa questão faria mais sentido ser tratada se fosse eu um aluno de há vários anos no ensino superior e tivesse sentido na pele a transição. Como não experimentei o antes de Bolonha, qualquer comentário meu será meramente teórico. Não irei entrar por aí. No entanto, parece ser um bom processo (o de Bolonha), quando lida a apresentação no site governamental acerca do tema. Até se lê, a certa altura: Maior envolvimento dos estudantes na gestão das instituições de Ensino Superior; como consequência de Bolonha...
Enfim, fico-me pela amargura de ler por vezes um ou outro “procura-se licenciado pré-Bolonha”.
Gostava de falar sobre tanta coisa, se não tivesse que ir estudar... Não me interpretem mal o dramatismo, sou um privilegiado. Com testes para fazer, embora...
PS. Da importância que revesti e revisto a educação, atrevo-me a dizer, que todos a devíamos ter. Ser bem-educados, entenda-se...
PS Ponha o dedo no ar, quem, dos poucos que chegaram ao fim, lhe pareceu um texto sem punchline ou final trágico. Enfim, tentei incutir o género “No country for old man”. E aproveitando a boleia digo, além de não ser para velhos, este país também não está nada bem para os jovens ;)

quinta-feira, 19 de março de 2009

letras gordas em tempo de vacas magras

EMPRÉSTIMOS PARA A HABITAÇÃO 50%MAIS BARATOS PARA FAMÍLIAS VÍTIMAS DO DESEMPREGO!
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durante dois anos, tendo que ser pago, na totalidade, ao fim desse prazo, o desconto gentilmente cedido

quarta-feira, 18 de março de 2009

profecias (i)





Não conheço nenhum caso específico de violência ou pacifismo conjugal entre homem e mulher de religiões diferentes, pelo que aquando das declarações do nosso D. José Policarpo acerca do "monte de sarilhos" em que uma mulher portuguesa se poderia meter caso casasse com um muçulmano, preferi o monólogo. Interior, sem levantar muitas ondas ou tornados de acusações ou clemência. Disse, nessa minha privacidade, que talvez se entrasse numa certa antagonia exuberar um Deus que prima pela tolerância e diálogo ao mesmo tempo que se cataloga violentamente a violência doméstica como sendo um pecado exclusivamente muçulmano...

Como dessa vez optei por não soltar nenhum juízo de (muito) valor, também nada irei ajuizar acerca da situação hipotética que além da imaginação, também reside na legitimidade.

Suponhamos de um órgão conceituado da Igreja muçulmana (não precisando de ser Alá), vinha a público declarar:
Caros irmãos, tenham cuidado, tenham muito cuidado! Andam por aí Cristãos que, embora divinamente superiores, teimam em recusar a utilização de contraceptivos porque, estes negam a “verdade do amor conjugal” e, além disso, “agravam o problema da SIDA”...

Como disse, não vou dizer nada sobre as (repito, hipotéticas) declarações anteriores. Talvez porque são apenas hipotéticas, ou talvez por são apenas um meio para atingir um fim.

As declarações não hipotéticas, essas proferidas por Bento XVI, já não resisto a sobre elas opinar. Será um comentário breve, se considerarem breves as nove letras e o acento da palavra Ridículas. Enfim, valha-nos Deus...

PS.

Notícia

Noticia 2

quarta-feira, 11 de março de 2009

Laurita

Porque todos merecem um pouco de Luís Fernando Veríssimo, este meu querido escritor conterrâneo donde brotam tão maravilhosas histórias de uma comédia tão suavemente paralela à realidade que se torna de tal forma delicioso de saborear, resolvi brindar-vos Dele. Apreciem:

"

A Laurita é uma mulher amarga e filosófica, e tem suas razões. Ele se chamava Candiota e, semanas antes do casamento marcado, disse para Laurita que iria abandoná-la.

- É outra? - perguntou Laurita, soerguendo-se na cama. (Nota pessoal do autor: sempre gostei muito de "soerguer-se", mas tive poucas chances de usá-lo. Agradeço a oportunidade. Um abraço nos meus familiares. Segue a história).
- Não - respondeu Candiota - é Outro.

Como não percebeu o O maiúsculo, Laurita pensou que o Candiota, logo o Candiota, um homem tão reto, fosse homossexual. Mas Candiota apressou-se a corrigir o engano. O Outro era o Senhor.

- Fui chamado pelo Senhor.

Deus o convocara para seu ministério e Candiota não podia ter qualquer distração na sua luta contra o Demônio, muito menos a Laurita, com seus mamilos tipo medalhão. Laurita não casou com o Candiota e com mais ninguém.

Renunciou à sua missão, que era reproduzir tantos Candiotas quantos pudesse para ajudar o Brasil, em favor da missão do Candiota, de combater o Demônio em todas as suas manifestações.

Anos depois, num baile de carnaval, Laurita julgou identificar o Candiota num grupo de homens fantasiados de legionários romanos que circulavam pelo salão com mulheres seminuas sentadas sobre os ombros. Não pôde ter certeza que era o Candiota porque ele era o único que segurava a mulher ao contrário e tinha a cara enterrada entre as suas coxas.

Talvez não fosse o Candiota. Talvez fosse o Candiota e ele estivesse numa missão secreta para o Senhor, em território inimigo. Talvez fosse o Candiota e ele tivesse mentido para ela. Talvez fosse o Candiota e... O homem depositou a mulher que tinha sobre os ombros em cima de uma mesa, e Laurita viu que era o Candiota. Gritou para ele:

- Candiota, e a sua luta contra o Demônio?

E então Candiota virou-se, avistou Laurita, abriu os braços dramaticamente e respondeu:

- Ele venceu!

Foi depois disso que a Laurita ficou assim, amarga e filosófica.

"

Luís Fernando Veríssimo, in "Sexo na Cabeça".

segunda-feira, 9 de março de 2009

Comparações do arco da velha (I)

Tenho vindo a matutar que as crises humanitárias por essas Áfricas e Ásias(1) fora estão para a sociedade Ocidental como se um nosso conhecido não usasse roupa interior: Para ele é desconfortável, é socialmente inaceitável tanto que quando descobrimos dizemos: Que Horror!, mas no fundo, o que nos interessa?

(1) Trata-se um grupo representativo isto é, não quero dizer que não haja tais crises no resto do mundo... Um pouco analogamente ao facto de que se existissem uns jogos olímpicos da Desgraça, seriam esses os dois continentes a transportar a bandeira do Mundo, na sessão de abertura. O que não inviabilizava que outros também estivessem a participar...

domingo, 8 de março de 2009

Dia da Mulher


No seu quarto, tinha três fotografias: uma dos dois filhos, quando ainda eles não conheciam a palavra mãe, uma do seu casamento, quando já a chamavam mãe e outra da sua juventude, quando apenas sonhava ser mãe (e fora tão curto o caminho do sonho à realidade). Não eram analgésicos ou falinhas-mansas que lhe curavam os hematomas: eram aquelas fotografias. Eram elas que, apesar de serem duas sépia e uma a preto e branco, a acompanhavam e davam alguma cor aos longos minutos funestos do seu penoso envelhecer.
Há anos que o marido dava o corpo ao manifesto, numa luta das 9h ás 23h, para por comida na mesa. Nunca desconfiara do seu árduo horário, porque sempre ouvia e acreditava na falsa inocência de quem já não a achava atraente:
Onde estiveste até tão tarde?
A trabalhar! E para de chorar.
E parava sim, porque com aquela resposta sóbria, a noite iria ser meiga.
(Os lábios cortados saravam com palavras de arrependimento. As nódoas negras aclaravam com promessa de um futuro melhor. O sangue limpava-se com águas de amor falacioso).
A manhã começava com um beijo de bom dia aos filhos. Na realidade começava com gritos de “dá-me o nó na gravata” ou “vai fazer o pequeno-almoço”, mas isso, dizia ela, ainda fazia parte da noite. Então, para não gastar logo cedo uma ou outra lágrima, convenceu-se que a manhã começava com um beijo nos filhos. Por volta das dez, já estava sozinha. Salvo-seja. Tinha as fotografias e os afazeres domésticos. Não tinha amigas, não precisava delas. Estava farta que toda a gente lhe dissesse que o divórcio não era um casamento com o diabo, mas quiçá, apenas a fuga dele. Amava o marido. E justificava todos os seus comportamentos pela pressão no trabalho ou, a maior parte das vezes, pela sua ineficácia como esposa dedicada. Atormentava-a o facto de julgar não ser uma mulher exima e não conseguia libertar-se do rótulo de desempregada que tanto a fazia dependente. Então, chegava a respirar um certo ar de merecimento quando o marido a beijava com a fivela do cinto.
(E logo as nódoas negras aclaravam com promessas de um futuro melhor)
Dos filhos, recebia a meiguice. E mantinha-se viva por eles. Por eles, e pelas fotografias.
Um dia ou outro saía à rua sem o intuito de fazer compras. Ía apenas passear, tirar tempo para si. Carregava energias que logo esmoreciam aquando o seu regresso a casa: Recebiam-na à noite os carinhos do marido, longe dos filhos e das fotografias. E ela defendia-se:
Não sou uma puta, não tenho mais ninguém. Fui só passear. Mas tens razão, pequei, subjuguei-me ao descanso. Mereço.
(E logo os lábios cortados saravam com palavras de arrependimento)
Vivia no fio da navalha. Não sabia para que lado pender a sua vontade: Gostava de ver o marido chegar longe de cedo ou preferia recebe-lo ás cinco? Não escolhia porque não tinha tempo de se habituar a uma das opções. Três dias o horário era um e mais uns quantos dias era outro. Não era um horário certo, e não estranhava: Ele é trabalhador dedicado e por certo o patrão reconhece isso em regulares dispensas de carga laboral.
Quando não chegava tarde, trazia sede nas palavras e nos gestos. Corria bem quando ela compactuava nos seus mais ou menos hediondos apetites sexuais. Magoava-se quando retorquía um “não me apetece agora”.
(E logo o sangue se limpava com águas de amor falacioso)
Nem sempre estava acordada quando não dormia. Às vezes, apenas olhava as fotografias.
Gosto da felicidade dos rostos nas fotografias. Imortalizam-se num tempo que, embora saibamos que não volta mais, não deixam de lembrar que se um dia existiu não é impossível tornar a sentir toques do seu regresso.
Acho que ela também gostava.
E acho que esse, fora o seu maior
erro.

A Mentira Perfeita

Eis uma recém mentirosa que tornou obsoleta a minha pequena apresentação de boas-vindas. Mas não há problema, porque na minha pessoa não guardo rancor e não procurarei vingança (A Catarina é PS!). Pronto, agora já não tenho mais nada a dizer... Apresenta-se mais uma companheira de calúnias, Catarina Ferreira:

"Ora bem, mintamos.
Não falemos nem de política, nem de guerras, nem de fome. Para quê? Meras futilidades num mundo cheio de marcas e rótulos onde afinal o que interessa é ser rica, gira, alta e magra.
Dane-se a política. Se afinal o que importa saber acerca do Barack é fotografá-lo a levar as filhas à escola, a passear o cão, mexericar dias a fio “que horror era aquele vestido da mulher! Ela preta e o tecido verde! Que merda de combinação!”
Vamos então abstrair-nos dessas coisas banais.
Pergunta: “então, enuncie uma das políticas de Bill Clinton.”
Resposta: “Ah, não faço ideia. Mas conhece aquele escândalo do vestido azul? Posso contar-lhe tudo com detalhes de hora, data, número de convidados, ementa do jantar e serviço de copos!”
Gente, acordemos, porque se o nosso papa benze ferraris em vez de devotos e se, hoje em dia, fazer um ovo estrelado sem rebentar a gema já é motivo mais que suficiente para ser canonizado então, não sei não, mas creio que o avanço da sociedade deve seguir numa montanha russa e estamos agora numa fase de looping que, honestamente (desta vez sem mentira nenhuma), me deixa enjoada…
Mintamos então, se é a mentira a ilusão da alma.

VIDA HIPOTÉTICA: acordar bem tarde, num daqueles duplex gigantescos com vista para o mar, com um sol de verão lá fora e um pequeno almoço bem à moda das novelas brasileiras. Criadas para tudo.
• para as crianças
• para o marido (esta sem ser a amante)
• para a loiça
• para a roupa
• para as compras
• para a limpeza
• para passear o cão
• viver dos rendimentos do pai
• comprar chanel e YSL com o dinheiro do marido
• não fazer nada
• ter tempo para tudo
MENTIRA PERFEITA

Três palavras para este mundo: realismo, trabalho, consciência.
S Quino escreveu que o comunismo estava para a sociedade como a sopa para a infância então talvez habitemos uma enorme tigela de sopa, não comunista mas pessimista.
Quanto a cada um de nós, bem, considere-se o que quiser. Eu prefiro ser a gota de limão na canja…um bocadinho de acidez é bom para toda a gente.
Assim se inicia uma mentirosa."

quarta-feira, 4 de março de 2009

Rúben and the Brain

O dia chegou e nós, com o rabo entre as pernas, conseguimos fugir à aniquilação total. Aos modernos cavaleiros do Holocausto, atirando impostos pesados e impingindo nacionalizações à força (e sem preservativo) ás nobres donzelas Portuguesas. Terríveis, e tão pouco fashion. Ainda assim, escapamos à conquista Mundial. A Mentira sobreviveu mais um dia, e por mais um dia vai vingar. Em jeito de agradecimento formal casámos com mais um Aliado estratégico, que nos salvou a pele revelando a sua estratégia, num psssiu baixinho; nao digas nada a ninguem; não não, não dizemos não te preocupes; mas afinal dissémos. Estragámos tudo, já vão perceber. Rúben. Rúben Magalhães, forte, resistente e com o mesmo sex-appeal com que Sócrates admira os seus computadores intercontinentais, pequeninos, pequeninos. Analista de conjuntura de nicknames do Messenger, trabalha também em part-time enquanto arguementista de filmes pornográficos Húngaros. Possuindo profundo conhecimento de linguagem gestual, em breve apresentará com toda a dedicação um post gravado com fantoches surdos-mudos. Sobre o ciclo da água. Ai, se voçes soubessem como o Rúben adora o ciclo da água...

Bem vindo amigo, que nos brindes com muitas mais mentiras que nem esta:

"Há algum tempo comecei a trabalhar num projecto, inicialmente como hobby, mais tarde em part-time, coisa pequena, apenas por diversão, tendo mais recentemente decidido dedicar-lhe mais atenção e dedicar-me inteiramente à sua realização. A ideia surgiu por mero acaso e em parte pela falha do meu anterior projecto de tentar completar uma caderneta de cromos do Bollycao alusiva a raças de cães. Pensei então em iniciar este pequeno empreendimento de dominar o mundo, mais como uma forma de desafio pessoal do que uma busca por reconhecimento. A princípio deparei-me com alguns obstáculos que quase me fizeram desistir da ideia, mas que com o tempo ultrapassei. Antes de mais, este é o tipo de projecto que se inicia numa garagem, tipo Microsoft e assim, e eu não tinha garagem. Lembrei-me então que também não têm má fama as ideias que surgem numa simples mesa de café e que assim resolvia logo o problema de onde haveria de posicionar a primeira estátua dedicada à minha pessoa, como qualquer Pessoa. Daí ter escolhido um pequeno café com esplanada ali para o centro da cidade. Depois veio a derradeira questão: por onde começar? Primeiramente pensei em começar pelos Estados Unidos, que assim matava-se logo o mal pela raiz, depois o Canadá era facílimo e ainda por cima podia picar os Russos para me ajudarem. Mas tudo o que parecia simples e fácil se veio a demonstrar uma grande complicação. Os Russos não me levaram a sério, o processo para aquisição do visto de dominador na Embaixada dos EUA mostrou-se complicado e burocrático, certa papelada que tive que pedir na Junta de Freguesia nunca mais era autenticada e tudo isto passado em época de exames o que também não facilitou. Mas bem, ultrapassadas todas as burocracias, decidi avançar mesmo sem o apoio dos Russos. Comecei por fazer uma pesquisa exaustiva de tentativas anteriores de dominar o mundo e descobri que não eram afinal assim tão poucas. Claro que nenhuma delas deu certo, mas também na altura não havia Internet e era uma chatice para ir de um sítio ao outro. Depois de engendrado um plano, que disponibilizei até como um pequeno plugin de simulação para o Google Earth, surgiu outro problema de maior. Tudo isto se passou na semana a seguir à Queima e não andava lá muito bem de finanças, que como se sabe a Queima está para os estudantes como a recessão económica mundial está para o clima económico português. Decidi então procurar investidores externos, mostrar-lhes que era um projecto tão ou mais rendoso que o próprio TGV, mas devido à que vem assombrando todo o mundo, todos os empresários que contactei se mostraram adversos à ideia. Desânimo. Lembrei-me daquele Dog Alemão que teimava em não me sair no Bollycao. Lembrei-me de todos os antigos projectos que haviam fracassado. Lembrei-me daquela vez que o garoto gordo me bateu no infantário. E foi essa panóplia de más lembranças de um passado de fracassos que fez surgir um novo ânimo em mim. Seguiu-se uma altura de total dedicação ao projecto. O primeiro objectivo era arranjar financiamento. Organizei festas e mais festas com mini a 50 cêntimos, festa do semáforo, do preservativo, arrematação de ofertas. Tudo! Entretanto recebi uma proposta de patrocínio da Sagres e uma avalanche de e-mails chegavam todos os dias, de todo o mundo, com mensagens de força e de ânimo, a maior parte de pessoas que vinham acompanhando o meu blog, onde eu postava diariamente os meus avanços no projecto. Tudo parecia compor-se. Um infiltrado canino na Casa Branca, as atenções desviadas para os Óscares… Até que uma fraqueza fez tudo ir por água abaixo. Tinha nessa altura amealhado uma quantia razoável de dinheiro e surgiu uma bela oportunidade de o duplicar, triplicar, ou quem sabe até mais. Uma simples partida de Poker. Texas Hold’em. Sentia-me cheio de sorte. Perdi tudo no Cais. Engraçado, que nem cheguei a sair de terra. Um par de ases e um de damas contra um trio de 3. É o que mais me chateia no Poker."

P.S. Leiam a contracapa do Expresso deste fim de semana. Depois de um milénio à procura, por fim revelou-se a cara de Jesus...

terça-feira, 3 de março de 2009

De novo, aulas

Sim, foi ontem. Mas ontem não tive disponibilidade para escrever. Podia simplesmente mentir e dizer que o meu primeiro dia de aulas foi hoje, terça – feira e narrar o que adiante irei descrever mantendo intacto o conteúdo e alterando simplesmente as datas. Podia, e talvez tivesse mais impacto, bem como um acrescido sentido oportuno. Não, não me iria sentir moralmente culpado por cometer tão pequena calúnia, afinal de contas, não é nada de grave (acho mesmo supérflua esta introdução). No entanto, e como estamos no país dos honestos, lá irei admitir a minha preguiça, engolir em seco, pedir desculpa aos leitores, por as culpas no anterior governo e começar:

Hoje foi o meu primeiro dia de aulas.
E, para que afaste o texto de uma (simples mas saudosa) composição da escola primária, de escrita sempre obrigatória lá para o terceiro ou segundo dia de aulas, vou ocultar os pormenores meteorologicos, o pequeno almoço que tomei, a roupa que trazia no corpo, os cheiros que pairavam no ar, as flores, animais e sítios por onde passei. Peço desculpa ao público mais infantil.
As aulas julgo terem sido o menos importante. Na primeira, aquando da apresentação do docente e feitas algumas considerações sobre a cadeira, houve tempo para serem mandados uns palpites acerca do ensino universitário: Disse o professor (por quem ainda não nutro adoração, agrado, desprezo ou repulsa por, de facto, ainda mal o conhecer) que o ensino superior estava mal. Logo se ouviram algumas palmas na bancada. Continuou, e vaticinou que a solução para o problema será (similarmente ao que conhecia de outras universidades estrangeiras por onde já passou) aumentar as propinas. Tal aumento daria aso a uma selecção intelectual que se justificaria pela premissa, comprovada, que as posses materiais são directamente proporcionais ao bom comportamento e empenho académico. Especificou ainda um valor, 20 mil euros, mais coisa, menos coisa. A plateia rendeu-se-lhe com uma ovação em pé. Julgo, de facto, que na base de todos os problemas universitários estão os pobres. Além de insubordinados, faltam as aulas, causam distúrbios, não consomem nas cantinas “privadas”, são conversadores e, de quando em quando, cheiram mal. Oh sim, fechem-lhes a torneira e as instituições de ensino serão bem mais aprazíveis.
De tarde encontrei-me “encurralado” na estação de metro do Colégio Militar. A linha azul foi encerrada e, mais uma vez, por motivos alheios ao metro. Não entendo o significado da palavra “alheios” na frase repetida pela voz microfónica e escrita nos painéis luminosos. Como pode algo ser motivo de interrupção da circulação do metro e ao mesmo tempo ser alheio a este serviço público? Talvez não me esteja a fazer compreender. Os acidentes acontecem, certamente. Assim como devem existir infra-estruturas que os previnam. Se vem uma enxurrada, motivo de causa natural, e alaga completamente o túnel do metro, a culpa será de Deus, será do equipamento danificado, das técnicas utilizadas não serem as suficientes para prevenir tal situação ou será apenas, algo alheio ao Metro? Porque não dizer: sim, houve uma razão para encerrar o metro, razão essa que pedimos desculpa mas não pudemos evitar. Inquieta-me de certa forma essa mentalidade de “larga-me, não tenho culpa, foram os outros” que a palavra “alheios” me grita aos ouvidos.
Mais tarde ainda, quando regressava com alguma pressa ao meu quarto foi-me pedido para abrandar o passo porque, nos corredores não se deve correr. Quem raio havia de inventar a palavra corredor para um sítio onde não se pode correr? Acho que teria algumas semelhanças com o proibir a colocação de garrafas numa garrafeira, impedir a venda de gelados numa gelataria ou não deixar o carteiro levar as cartas. Algumas semelhanças ainda teria brincar com o facto de o partido da Rosa ter feito o seu congresso numa terra chama Espinho. Ou dizer que as Rosas são bonitas, cheiram bem, mas não dão frutos. Mas não é de flores que vim falar hoje e, enfim, lá se passou o meu primeiro dia de aulas.

O Bom Rapaz (II)


Guantánamo - 48%
Iraque - 0%
Gaza - 0%
Revitalização económica (ou esperança nela) - 13%
Animal Doméstico Português - 100%