sábado, 18 de julho de 2009

pimbas, descarga emocional

Daquele banco, vê-se o futuro. É simples, cru, de madeira arranhada e com a tinta vermelha original que o tempo não conseguiu arrancar. Esse que da sua insistência conhecemos os meses, os anos e as rugas que a carne dos bichos não tem como recusar, apesar do chega-para-lá que dura o tamanho da vida, e acaba sempre com os mesmos vencedores e vencidos. Á volta do banco brilhava um relvado, teimoso na sua luta contra o mar de betão. E os ataques das brincadeiras nunca calmas dignas da infância, calunia essa que ao fim ao cabo é a razão da sua existência. Não obstante, fazia brotar de quando em quando um palmo de ortigas sacanas. Nunca acreditou em sinas ou pré-destinos, e não ia começar agora. Do banco vermelho via-se o futuro, num erotismo que sempre levava a si curiosos, mal-dizentes, crentes ou sépticos, intelectuais, analfabetos ou pseudo-qualquecoisa, em peregrinações mais ou menos sazonais. Todos reconheciam no que viam do banco o futuro, mas só alguns nele acreditavam. Alguns, altivos, coçavam o queixo com dois dedos ou puxavam pela barba, e chegavam à conclusão que o banco não precisava de ser confortável para ter valor. Porque dele via-se o futuro. Outros sentavam-se, viam, não acreditavam, levantavam-se, seguiam pela rua calmamente, com o mesmo afecto e sensibilidade que os levou a ali se sentarem. Uns terceiros ainda chicoteavam os primeiros com acusações discriminatórias, invejando-lhes o ar estóico ou temendo as imagens que viram. Certo dia encontrei sentada no banco uma rapariga petrificada, olhos pretos escuro, reluzentes. Duas pérolas que olhavam fixamente o rio, não com um ar de loucura, mas com a aparência de quem saboreava o que assistia. Sei-o pelo sorriso quase imperceptível que lhe escalava poucos milímetros a face. Pensei partilhar o banco com ela, mas não tinha curiosidade em saber o que via. Já ali como ela tinha estado. Olhei-a o tempo que pareceu pouco, ininterruptamente até que um indivíduo de fato preto se lhe colocou à frente. Apenas desviou o rosto, e continuou a sorrir. Outros dois chegaram e teimaram em tapar-lhe a vista. Pôs-se em cima do banco, de pé descalços e calcanhares calejados. Daí continuou a sorrir mais uns instantes. E vieram homens cada vez mais altos. Tentou saltar e ver por cima. E os homens saltaram com ela. Tentou os lados e os homens vinham cada vez mais largos. (E o sorriso caiu no relvado, que o acolheu e com ele regou um sentimento de revolta.) Os homens de preto, não gostaram do seu ar utópico (temiam-no, e porque o faziam se as utopias não saem dos contos?). Acho que não lhe compreendiam a coragem e temeram que a rapariga, também ela, anunciasse o banco ao mundo. Porque do banco vermelho via-se o futuro, e há quem não goste de o partilhar.

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