O sucesso académico e o bom aproveitamento dos anos que contemplam a passagem do estudante pela universidade não dependem exclusivamente do esforço individual levado a cabo por este, sendo erróneo encarar a atitude do estudante como único elemento capaz de influenciar o proveito final da sua frequência no ensino superior.
É necessário acrescentar variáveis, tais como o contexto social e económico do visado, as condições materiais da instituição de ensino e, o ponto que pretendo aqui destacar, a qualidade pedagógica da disciplina e do docente.
Uma escola que se pretenda democrática deve ser construída por todos os seus intervenientes, daí que a forma de organização pedagógica das disciplinas não possa ficar de forma religiosa e intocável a cargo dos docentes responsáveis. Nós, os estudantes, enquanto objectivo final de uma escola e como principais influenciados pelos métodos pedagógicos, devemos ter uma palavra a dizer, ver essa palavra ouvida e prática no seu efeito.
Posto isto, convém perscrutar a situação actual em dada matéria, exercício que, em detalhe, deixo para que cada um reflicta acerca do que se passa na universidade que frequenta. De uma forma geral, sinto que há alguma relutância em atribuir aos estudantes o poder de avaliar o funcionamento pedagógico das disciplinas que frequentam. Por se achar que tal é uma matéria da exclusiva responsabilidade da docência, ou por se achar que o estudante irá invariavelmente procurar o facilitismo. Quanto à última, permitam-me que a explore. Se as opiniões estudantis acerca do modo como as aulas decorrem fossem ouvidas, é bem possível que os resultados académicos progredissem. Dizer que tal se deveu ao facto de a disciplina se ter tornado mais fácil, é perfeitamente aceitável. Aqui devem entrar os órgãos de controlo científico. Se a mesma matéria, com os mesmos objectivos traçados e cumpridos, com a mesma exigência, é leccionada de forma fácil, porquê insistir em defender a forma difícil, simplesmente porque sim?
Um outro problema que parece surgir, nas faculdades onde já existe um processo de avaliação por parte dos alunos, é a fraca adesão destes. Na minha opinião, este é um problema que se mistura com um outro: Os resultados, na prática, que a avaliação feita pelos alunos consegue alcançar. Se este processo, em que despimos a pele de avaliado e vestimos a de avaliador, tem como fim a elaboração de meros dados estatísticos, é compreensível a fraca participação. Mais, de que serve pedir responsabilidade aos estudantes na avaliação, se dela surte a simples identificação dos problemas e não a sua superação? É imperativo recolher resultados concretos. Esses resultados, podem partir da mudança na forma de actuar do docente, responsável pela organização da disciplina. É importante entender, a competência científica tem pouco ou nada a ver com a competência pedagógica. (Não nego que o mau desempenho em certas cadeiras não dependa do um desinteresse individual do estudante, ainda assim, considerar apenas esta perspectiva, é bastante simplista. Note-se ainda o caso desse desinteresse ser desencadeado pela forma como está organizada a disciplina ou como as aulas são dadas.) Como mudar? Pressão psicológica, através da publicação pública dos resultados da avaliação. Publicar os resultados excelentes, tudo bem como forma de reconhecimento, mas não deixar de publicar os resultados menos bons. Mais, porque não incentivar o docente a frequentar acções de formação, com vista a que este adquira ferramentas úteis que o enriquecem na forma de saber ensinar.
Resumindo, está em causa um aspecto fundamental da universidade, e como tantos outros, o seu funcionamento deve ser levado a cabo de forma democrática. Deve haver espaço para que nós, estudantes, possamos não apenas ser ouvidos, mas levados a sério na identificação e mudança das situações menos boas, nos actos primários e basilares de ensinar e aprender.
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