Há camelos estranhos, e o Serafim teima em fazer-se passar por um. Passa os dias a andar aos círculos, sem sair dos mesmos quatro metros quadrados de deserto. Imagine-se, toda a sua criatividade finda na escolha do sentido que dá aos seus passos, ora horários, ora anti-horários. Amigos e conhecidos cansam os apelos Serafim, tu segue um caminho ou Serafim vai em frente, mas o Serafim dá ao seu andar em círculos um jeito perpétuo. Com tempo, as areias que pisava iam ficando fartas de si e afastavam-se para os lados, até que, anos depois e de tanto batalhar Serafim se viu enterrado a uns mil e duzentos metros de profundidade. E não parou. Nunca parou. E de não parar, aconteceu um dia, não vi mas contaram-me, que um jorro de líquido negro viscoso lhe nasceu nos pés, inundou os mais de mil e duzentos metros que fizera e trouxera-o para a superfície que nem elevador improvisado. Serafim descobiu petróleo e tornou-se o camelo mais rico do deserto, quiçá do mundo. Conhecidos e amigos dizem hoje, que davam uma bossa para ter seguido o caminho de Serafim.
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