domingo, 30 de janeiro de 2011

Sit on my face (I)

Luís Fernando Veríssimo começa um conto (do começo) de “Peças Íntimas” com um “Merda! – disse a Madre Superiora”, e eu invejo a sua capacidade de começar uma história.



É definitivamente difícil explorar uma ideia sem cair nos iniciais advérbios de modo que dão um ar sério e formal a mais uma parvoíce sem significado. E como sou um ser preguiçoso, vou partilhar com os nossos caros 3 leitores ideias para uma eventual história – podem imaginar como seria boa se fosse escrita pelo nosso Fernando.



- A maneira mais fácil que a Ana encontrou para partilhar com os pais que tinha um namorado foi informar que estava grávida, e que o bacanal foi tamanho que teria sorte se a criatura não nascesse peluda ou a ladrar. Passado um dia diria que era brincadeirinha, e que apenas tinha arranjado um namorado. E lavadinho.



- Se a história da Cinderela fosse pensada hoje, experimentaria ela sapatos ou sutiãs? E se no âmago da procura do par desaparecido se encontrasse a experimentação de roupa íntima, seria melhor se fosse um filme infantil ou pornográfico?



- Imaginem uma praia cheia, ambiente absolutamente perfeito, mamas, sol intenso… quando se junta uma multidão ali fundo, barulho, confusão, pedido de ajuda, ambulância, mais multidão. A câmara aproxima-se sorrateiramente, furando o aglomerado de pessoas, fala-se em respiração boca a boca, primeiros socorros, etc. De repente silêncio profundo, e percebe-se o que se passou. A cerveja morreu.



- Ainda em ideias para crianças, se a Bruxa de hoje fosse uma pessoa verdadeiramente doentia, acham que a Branca de Neve morria com um tampão envenenado?



- Preservativos fluorescentes parecem ser uma ideia divertida. Vem logo a possibilidade de brincar com sorrisos brilhantes, quando a luz falha, no baptizado do primo, no dia seguinte. O Marido estava em França.



- Pensada pelo Tiago Novo. Obrigado. Gostava de ter uma Amália na minha vida, fulminar um bruto sentimento unilateral não partilhado, só para tornar a dor da história mais bonita. E ela perguntaria “Vens?” e eu responderia “Vou Amália”, e pensava baixinho “Vou Amália para sempre”.



Um dia escrevo uma destas a sério.



“Merda! – disse a Madre Superiora. Não se assuste, é que eu sempre quis começar um conto assim. Na verdade, o conto não tem nada a ver com isso. Na verdade, o conto termina aqui.”



A inveja é um sentimento feio.

3 comentários:

  1. É um prazer ter o Felipe da Guarda de volta.
    Desta vez dei comigo a pensar ainda bem que este gajo nunca pensou em ser realizador/cineasta.
    Os teus filmes seriam proibidos em todas as salas de cinema, apesar das ideias e dos argumentos serem todos espectaculares.
    Vai carregando.

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  2. Destas, a história mais "veríssima" (e isto, ao menos no Brasil, é um elogio da mais alta conta!), ao meu ver, é a do bacanal da Ana

    me lembrou a do rapaz que perde a aliança da forma mais clichê do mundo: caiu num bueiro enquanto trocava um pneu na estrada. Entretanto, como era evidente que a patroa jamais acreditaria, achou mais seguro a mentira e fazer-se de honesto, dizendo que perdeu mesmo em um inferninho

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