domingo, 5 de junho de 2011

and now for something completely different (VI)

Western em cinquenta e oito segundos

Não vás, eles matam-te, repetia o rapaz ferido. Sangrava do peito e do joelho esquerdo. Os dois entraram no estábulo lentamente. O rapaz franzino suportava o peso do ferido, por isso caminhavam lentamente. Deitou-o num monte de palha. Lá fora, homens a cavalo. Não vás, eles matam-te, repetia o ferido. Dói-te, perguntou o franzino, ao mesmo tempo que fechava os olhos para não chorar. Tinha medo. Dói-me, mas não vás, eles matam-te. O rapaz ferido ouviu o som de balas a entrar no depósito do revólver, O que estás a fazer, inquiriu. Nada, descansa, ainda te dói? A dor estava a passar. Não vás, eles matam-te. O rapaz franzino não conseguiu sentir o pulso ao ferido. Beijou-lhe demoradamente a testa. Tirou do bolso o lenço com as iniciais do seu nome, que a sua irmã bordara. Limpou o suor. Tinha medo. Havia silêncio no estábulo e ouviu Não vás, eles matam-te.

Levantou-se, caminhou para a saída.

Lá fora era Outono e fim de tarde. O céu era fogo. Os milhafres voavam acima da bruma, alheios à incivilidade do homem.

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