sexta-feira, 24 de junho de 2011

caminho para a servidão

O debate levantado pelo André é do mais interessante a que se pode assistir, é um facto. Esse debate relembrou-me o Mr. Hayek. Não morro de amores pelas ideias do senhor. Confesso. Apesar disso, sinto-me tentado a dissecar uma das suas obras mais badaladas, Road to Serfdom. A obra centra-se num aviso a Americanos e Ingleses: procura dizer que Socialismo e Nazismo decorrem de uma origem comum prendendo-se essa génese com a crescente intervenção do estado na economia. Passo a transcrever uma série de passagens seguidas de breves pensamentos pessoais.



"They were unwilling wholeheartedly to employ the methods to which they had pointed the way. They still hoped for the miracle of a majority’s agreeing on a particular plan for the organization of the whole of society. Others had already learned the lesson that in a planned society the question can no longer be on what do a majority of the people agree but what the largest single group is whose members agree sufficiently to make unified direction of all affairs possible."


Sim, todos conhecemos uma coligação partidária que vence não por mão de uma maioria da população, mas por vontade do maior sub-grupo entre um grupo de votantes.



"There are many features (...) and many symptoms that point to a further development in the same direction: the increasing veneration for the state, the fatalistic acceptance of ‘inevitable trends’, the enthusiasm for ‘organization’ of everything."


Sim, todos conhecemos a aceitação fatalista da inevitabilidade...



"Unfortunately, purely economic ends cannot be separated from the other ends of life. What is misleadingly called the ‘economic motive’ means merely the desire for general opportunity. If we strive for money, it is because money offers us the widest choice in enjoying the fruits of our efforts – once earned, we are free to spend the money as we wish. "


A redução do poder de compra das famílias é uma deliberação política. O não acompanhamento da inflação por parte das pensões e a redução dos salários é uma escolha ponderada. O dinheiro, segundo Hayek, oferece a possibilidade da livre escolha em disfrutar dos frutos do nosso esforço. O salário é diminuído. A possibilidade de disfrutar livremente do esforço é diminuída.



"For most of us the time we spend at our work is a large part of our whole lives, and our job usually determines the place where and the people among whom we live. Hence some freedom in choosing our work is probably even more important for our happiness than freedom to spend our income during our hours of leisure."


Sacrificar o emprego e impelir o aumento do desemprego é uma escolha política. Não seguir medidas que protejam o emprego é uma escolha política. A redução dos postos de trabalho na administração pública é uma escolha política. O grau de liberdade em escolher um emprego é inversamente proporcional ao decréscimo no número de postos de trabalho. A limitação na liberdade em escolher um emprego é uma escolha política.



"Planning and competition can be combined only by planning for competition, not by planning against competition. The planning against which all our criticism is directed is solely the planning against competition."


A privatização da Caixa Geral de Depósitos é uma escolha política. A limitação no acesso ao capital é uma escolha política. A competição defendida por Hayek como motor de liberdade económica e política carece de uma premissa básica: a livre entrada nessa competição. A limitação no acesso ao crédito e ao capital barra o acesso a essa mesma competição. Esse barramento é uma escolha política.



Conclusão:

Sem cair em futurologia, podemos afirmar que os tempos que se avizinham serão difíceis. E sem querer sucumbir a rituais de espiritismo, digo que tenho uma curiosidade enorme em saber a opinião do Hayek acerca das medidas que vigoram (ou estão prontas a vigorar) em Portugal. Não sabendo essa opinião, vou admitindo o que parece óbvio: o austeritarismo que vivemos e que se tenderá a acentuar, tem um carácter profundamente autoritário, disposto a causar crises de fé a qualquer fantasma liberal. A troika que nenhum português elegeu, traçou um caminho único, caiado de inevitabilidade. E ser empurrado pela senda de um caminho único, está longe de ser um gesto executado pela liberdade de um povo.

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