quarta-feira, 28 de março de 2012

como criar escolas menos aptas, por nuno crato

Gosto muito do Darwin e gosto muito do darwinismo. Sou mesmo teimoso ao ponto de não descartar esse gosto, quando em ideias várias encontro visões miúpes a que chamam darwinismo social. O que é isso? É achar que a selecção natural extravasa o campo da biologia e alcança a sociedade, ao ponto de chamar apto ou inapto a um indivíduo, mediante a sua condição social: medidas que visam fomentar a igualdade são prejudiciais porque atrasam a evolução natural da sociedade.

Em primeiro lugar, acho que essa é uma visão distorcida, porque esquece que no curso da evolução houve uns aptos quaisquer que ganharam coisas fantásticas como consiência, valores éticos, solidariedade, e um outro rol de mariquices que nos afastam dos condóminos de um qualquer jardim zoológico e que permitiram, isso sim, fazer as sociedades evoluir.

Em segundo lugar, vem a notícia de que o ministro nuno crato quer agora deixar ao critério das escolas a criação de turmas de alunos bons e alunos maus, muito ao jeito de dizer que se pusermos aptos para um lado e inaptos para outro, podemos facilmente conduzir uma sociedade à sua evolução natural: os inaptos hão-de desaparecer mais cedo ou mais tarde, mais vale desistir deles quanto antes. Para acelerarar a evolução, leia-se.

Em terceiro lugar, vem um vídeo curioso do sistema de educação finlandês. O título do vídeo chama-se revolucionário, mas eu acho que bastava dizê-lo sensato. Fala de igualdade.

Em quarto lugar, vem a conclusão destes pontos meios soltos. E eu concluo que este governo não é competente, nem naquilo que melhor sabe fazer, isto é, instaurar uma espécie de darwinismo social para magicamente fazer a sociedade evoluir. O exemplo finlandês mostra-nos que separar bons e maus numa escola apenas cria uma coisa: um sistema de educação, no seu todo, inapto. No final de tudo, na mesma linguagem darwinista social da qual discordo, o governo apenas está a roubar pedaços de aptidão a uma sociedade.





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