sábado, 1 de setembro de 2012

Addendum ao Post, ‘Coisas que até fazem sentido…’ — ou o que há de económico nos psicopatas.


Caros,

um amigo comentou comigo o meu post em conversa no facebook. Disse-me que gostou do ‘pena é’ e de eu usar a expressão ‘choca’ numa frase sobre ovos. Disse-me ainda que sentiu a ‘sensaçao crua’ que descrevi no Hostel. Eu não vi o Hostel mas tenho as minhas dúvidas. Pelo que sei, é um filme violento e um pouco sujo. O Funny Games é clean e não é violento (ou pelo menos, não é isso que uma pessoa guarda do filme).

Lamentei-me que o post não era tão bom como eu inicialmente o imaginara (enquanto vinha do talho). Lamentei-me que não estava claro o que havia de económico na diferença entre os psicopatas e os rapazes. Ao lamentar-me, tentei explicar-me — explicar-lhe — melhor. Seguem os frutos dessa conversa.

(Nota: não vale a pena ler este post sem ler o post anterior, que para quem não leu, aviso, é longo.)

Matar para os rapazes é como beber uma frize quando se está mal disposto: ‘Ah, estou tão mal-disposto' — 'Ah, estou na mesma…’

Toda pessoa age segundo o seu interesse próprio. Porém, a partir do momento em que a escolha é indiferente, outros criterios kick-in.

No caso do psicopata, a escolha ‘matar ou não matar’ não é indiferente: existe um cálculo de custos e benefícios, o prazer próprio imediato, pela matança (ganho), e o custo, o seu eventual encarceramento (risco ou custo) e o desgosto do outro e da sua família (custo). No caso dos rapazes, tal escolha é indiferente: não existe cálculo — e a perda do outro é gratuita. (Quer dizer, não é totalmente gratuita mas o ganho marginal é mínimo e facilmente substituível. Para mais se comparado com a perda.)

A perda não corresponde a um ganho significativo dos rapazes, que matam por prazer, mas que podiam comer uma sandwish ao invés. There is no urge to kill in them. O mesmo ganho poderia ser obtido sem perda de outrém. Ceteris paribus,* os rapazes e o resto do pessoal podiam estar better-off. Eles, iguais, a família, melhor: viva! 
*'Ceteris paribus' é, como todos sabem, uma espécie de atum.
Um psicopata se não matasse não teria um standard de living tão bom como se matasse alguém. Os rapazes teriam se comessem uma sandwish ao invés.

Em termos de welfare, só existe uma tentativa de equilibrio com o psicopata.


Ceteris paribus, o psicopata está better-off matando, os rapazes nem por isso. Ou seja, no cômputo geral, a felicidade geral da população mantem-se estável se o psicopata matar o sem-abrigo: é mau para o sem-abrigo, bom para o psicopata. Existe um equilíbrio ou, pelo menos, nem tudo são perdas. A distribuição de welfare altera-se mas não o resultado agregado. Os psicopatas são pois um problema de distribuição do welfare, injusto mas como que equilibrado, e os rapazes um problema de resultado do welfare, que diminui — e que uma alternativa, comer a sandwish, estava mesmo à mão. Especialmente porque eles foram pedir ovos. Podiam comer uma sandes de ovo. Todos ficariam melhor. 'Omeletes for a better world ' — podia ser a mensagem do filme.
(É claro que tudo isto é falso — são loose thoughts.)

And so what? The text to the test.

Expliquei no outro texto a confusão que me fazia. Disse porém não tinha plena consciência da razão que justificava o meu terror pelos rapazes, por oposição ao horror (moderado) dos psicopatas. Disse que tal consciência implicou um raciocínio do tipo económico, que apresentei na altura e ao qual acrescentei aqui algumas notas. O ponto é o mesmo: a irracionalidade absoluta do rapazes. Agem por interesse próprio mas não tem dúvidas, não sentem thrill, a matança é banal — just killing people, as usual. O título diz tudo, não diz: Funny games. Não passe de um jogo, sem objectivo, como todos os jogos. E não são awesome, são funny, como a Powepuf girls do 'Cartoon Network.'

('Os jogos não têm objectivo.' E marcar golos é o quê? Os jogos têm objectivos internos ou intrínsecos, próprios ao jogo. 'Qual é o objectivo do jogo?' — 'Marcar golos!' — 'Mas para quê?' — 'Porque isso é jogar o jogo…' É redundante: o jogo joga-se porque sim. Objectivos extrínsecos não contam…ok, isto vai demorar mais tempo a explicar do que eu pensava, vou deixar a meio, lamento. Boa noite.)

(A quem não entender partes do texto, não se preocupe: foram trechos que provavelmente correspondem a private jokes com eventuais leitores do blog, ou comigo mesmo, ou com futuras pessoas para quem, em retrospectiva, techos do texto parecerão private jokes. Otherwise, just gibberish.)

Sem comentários:

Enviar um comentário