sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

elogio à herança

Aquartelar. Agora que penso em aquartelar. Há palavras que parecem brincadeira. Aquartelar. Na escola primária, lembro-me, a professora disse que as palavras começadas em Al eram de origem árabe. Sem percebermos a distinção entre geralmente e sempre, os daquela aula, os que presenciámos essa tirada de catalogação lexical começámos a descobrir todas as palavras árabes que existem na nossa língua, alface, Algarve, Al Capone, algures, algum, alecrim, Alentejo, alfarroba, alheira, alarve, por aí fora, ao mesmo tempo que nos desfazíamos em exclamações várias, 'bolas, os árabes tinham montanhas de palavras, às tantas ainda somos árabes sem saber'. Agora penso em aquartelar e descubro aquilo que é uma palavra vinda tipicamente da engenharia. Engenharia linguística. Pegar num substantivo comum, enfiar-lhe afixos e sufixos até dar à luz um verbo. Quartel não chegava, tinha que se inventar uma palavra para dar nome a acto ou efeito de meter dentro do quartel. Como engavetar, como alojar, como albergar, como ensacar. Então às tantas somos todos engenheiros sem saber. Agora que penso, o currículo de qualquer pessoa é necessariamente incompleto. Por exemplo, sem saber, todas as pessoas são árabes e engenheiras. Ou, tudo aquilo que somos é aquilo que outros construíram no passado.

1 comentário:

  1. Se aldrabão é árabe e desembarrilar engenharia. Então temos cá muitos árabes e poucos engenheiros.

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