sábado, 16 de novembro de 2013

Se alguém por aí precisar já sei distinguir perfeitamente o Soho do Financial District.


Facto número 1: estou de momento em Erasmus em Paris por isso perdoem-me 

desde já mas o assunto não poderia ser outro.

Facto número 2: se há coisa em que os franceses não são de todo receptivos é à 

língua inglesa e, infelizmente, o seu interesse por ela é igualmente nulo.

Facto número 3: o bizarro cenário que é ter uma aula de inglês, em faculdade 

francesa, com professora americana é, acreditem, uma sórdida combinação. Passo a 

explicar.

Foi preciso chegar aos meus 23 anos para voltar a ter uma aula onde um belo lote 

de lápis de cor é absolutamente necessário. Confesso que nos seis anos estava bem 

preparada. Agora, nem tanto. 

Estou no meio de uma sala onde a grande percentagem de alunos, diga-se a 

percentagem total de franceses, tem um nível de inglês básico, chocante na verdade. 

Mas isso pouco importa. Tudo o que é preciso naquela aula é pintar um mapa de 

Nova Iorque. Só isso, pintar um mapa, dividi-lo por distritos e pintar. Nada mais 

numa hora e meia. Julie, a professora americana, vai falando, e mesmo que os seus 

alunos não saibam nada de inglês garanto que vão sair daquela aula a dizer “fucking” 

perfeitamente! porque a Julie tem o dom, ou simplesmente o vício, de o dizer uma vez 

em cada três palavras.

Na verdade, não poderia acreditar que uma aula destas pudesse acontecer se não 

estivesse lá. Senti-me verdadeiramente a ser tratada como uma ignorante, como se 

estivesse numa espécie de ensino especial ou num grupo de pessoas com défice 

mental. Pintar mapas as nove da manha não é, de todo, a minha praia. 

O debate sobre a qualidade de ensino é uma coisa absolutamente transversal e, 

ainda que perceba que a situação não se passa a nível nacional, se há coisa que me 

indigna são situações como esta: aulas inúteis, professores que por muita simpatia 

que tenham para dar não conseguem ver que quem ali está para ser ensinado vai 

sair da sua aula com absolutamente nada. A exigência do ensino é algo a preservar. 

Estudantes universitários a serem tratados como meninos da primária é meio caminho 

andado para o embrutecimento da nação. 

Ou talvez esteja a menosprezar a boa vontade da Julie em ensinar o caminho direito 

para Central Park, não se dê o caso de eu ir a Nova Iorque nos próximos tempos…



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