Curioso porque
assume uma definição específica de riqueza. Afirma que essa não
depende do dinheiro. Depende das vivências, de lugares
conhecidos e pessoas descobertas (ou vice-versa), da novidade e da
aventura. Se viajar é isso, mudar coisas do pote da novidade
para o pote das antiguidades o provérbio torna-se
terminante: ser rico é coleccionar velharias.
Por outro lado dá
a machadada final na eficiência dos mercados. Se realmente existir o
lugar mágico onde oferta e procura se equilibram de forma eficiente,
o preço da transacção será perfeito isto é, a minha compra será
feita pelo valor que o produto intrinsecamente vale. O dinheiro que
gasto é exactamente igual ao valor daquilo que agora adquiri: uma
viagem. Não estou mais rico, nem mais pobre. O provérbio
torna-se terminante: os mercados eficientes não existem.
Mas
isto são graçolas mascaradas de coisa séria. Os provérbios são
para ser levados de forma leviana. Foi isso que fiz quando há três
ou quatro dias estava indeciso sobre que livro comprar. Na loja,
carregava parvamente dois exemplares, tolhido por uma guerra
entre prós e contras. Lembrei-me, com um acaso que não sei
justificar, do 'viajar é a única coisa em que podemos gastar
dinheiro e ficar mais ricos'. Comprei o Viagens e outras Viagens do
António Tabucchi. Há
quem diga que ler é viajar, e duvidando disso, juntei a tónica de
decidir ler um livro sobre viagens. Mesmo que o sofá não ganhe
asas, hei-de enriquecer um pouco, julguei.
Agora
que as peças se juntam, apercebo-me daquilo que carregam os
provérbios.
Se
pensarmos muito neles, deixam de fazer sentido.
Se
os usarmos de forma leviana, levam-nos por caminhos estranhos face
àquilo que originalmente pretendiam enunciar.
Se
os usarmos e o resultado não for agradável, nunca nos recordaremos
do seu uso, não o iremos publicitar, o esquecimento ditará a sua
sina.
E aqui estamos: acontece
que o tal livro que comprei é bem bonito.
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