sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sei o que fizeste no verão passado...


Escrevo estas palavras em viagem pelo país do sono um tanto ao quanto alcoólico. As palavras vêm tarde mas fazem-se cedo se avaliarmos o contexto político das eleições que ainda se cheiram longe. Ontem, juntaram-se à mesma mesa José Sócrates e Paulo Portas, num debate cujas regras bem vincadas do mesmo foram constantemente relembradas pelo primeiro ministro. Começou portas, com a lengalenga popular-cristã:
Falou-se da alta carga fiscal e da dependência do exterior tendo em conta a dívida externa. De PME´s e do ciclo de devolução dos impostos ás famílias...
Acerca de impostos, Paulo Portas reclama ser Portugal um dos cinco países da UE com maior carga fiscal. Ainda assim, dados do Eurostat revelam que os impostos em Portugal se situam (ainda, não nego o crescimento contra-cíclico em relação aos restantes países) a baixo da média da união europeia e os países onde as taxas sobre o rendimento são superiores ás nacionais são justamente os países escandinavos, cuja qualidade de vida está longe de ser posta em causa. Da dependência do exterior, há muito que a esquerda vem relembrar a sua fragilidade, apontando a revitalização do comércio interno como uma solução viável para dinamizar a economia nacional. A Portas comichou ainda o facto de os impostos não serem devidamente restituídos ás famílias da classe média... esqueceu que tal pode ser contornado com a oferta de serviços públicos de qualidade que, enfim, ultrapassam o projecto político do CDS, estando a fruição de tais serviços na prateleira onde chegam famílias de classe baixa ou média-baixa.
Sócrates foi mais do mesmo. O mesmo que já de tanto mais já cheira mal. Estávamos bem, mas a crise externa estragou o nosso projecto socialista. Quilhou-nos o défice e bla bla bla. Não se lembra o primeiro ministro, que bem antes de a crise internacional ter atingido terras lusas, ainda o crescimento económico de Portugal era anémico, face aos parceiros da união europeia. E que a taxa de endividamento das famílias aumentou todos os anos do seu mandato, assim como a taxa de endividamento das empresas... enfim, se há benefício na crise externa para alguém, quanto mais não seja para os que carecem de um credível bode expiatório. O primeiro ministro vangloriou-se ainda de ter sido decretado o fim da recessão técnica, justificando que tal foi motivo de imensa alegria para todos os portugueses... Ok, não lhe tirem o chupa-chupa, façam-lhe festinhas no cabelo e deixem-lhe a infantil demagogia.
Posto isto, foi tempo de falar de políticas sociais para o país.... e enfim, esperar ouvir Paulo Portas e Sócrates falar de políticas sociais é como ir ao cinema ver uma comédia de Hitchcock.
O resto do debate, prendeu-se com a Lei Penal. Portas criticou. Sócrates contra-criticou, tendo o CDS votado a favor da lei aquando da sua aprovação na AR. E a discussão durou, durou, durou, sempre com idêntico argumento.
Transversal a todo o debate foi a fuga à culpa de erros cometidos com o pretexto de que tais enganos haviam também sido cometidos de igual ou superior forma em mandatos anteriores. O deitar areia para os olhos do costume, onde ficou no ar a ideia de que Paulo Portas ter sido ex-ministro fora o maior dos seus pecados. Não contesto. E se o debate serviu para por em cheque os podres da governação mal-aventurada de cada um dos dois, em jeito de confissão, não me sinto mal por dizer que o Inferno vos aguarda.

2 comentários:

  1. Caro Fernando Pedro, "Começou portas, com a lengalenga popular-cristã"??

    Meu caro camarada, aqui tem uma parte da primeira intervenção do Sr. Paulo Portas:

    "Eu acho que esta politica económica [do Sr. José Sócrates] gerou mais desemprego, gerou mais impostos, gerou mais endividamento, gerou mais independencia do exterior, gerou mais falências e gerou mais injustiça social... O que é que eu entendo que é preciso mudar depois de José Sócrates? Desde logo focar completamente a politica económica nas empresas, PME's, que geram 2 milhões de postos de trabalho e não nas grandes obras, que é uma divergência de fundo, pois as grandes obras neste comento consomem o credito disponivel, ficando de fora as PME's que precisam de crédito e endividam mais o pais num momento muito dificil!"

    Agora, diga-me lá (se faz favor, claro!) onde é que está a dita lengalenga popular-cristã!!

    GORDO

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  2. em primeiro lugar, "Eu acho que esta politica económica [do Sr. José Sócrates] gerou mais desemprego, gerou mais impostos, gerou mais endividamento, gerou mais DEPENDENCIA do exterior". transcreva (se faz favor, claro) com o rigor que as suas boas capacidades auditivas lhe consagram (julgo eu, desculpe se não é o caso. enfim, gostava de saber de quem se trata o senhor).

    Em segundo lugar apetecia-me brincar e dizer que a lengalenga popular-cristã se centra na esperança que seja o divino a financiar a segurança social, e não os impostos. mas não, digo-lhe apenas que usei um artifício um tanto ao quanto literário, para transmitir a ideia que "começou portas com o discurso do partido popular".
    com mais calma... "começou portas com a lengalenga popular-cristã" é equivalente a "começou portas com o discurso do partido popular". desculpa se o ofendi...
    disponha sempre.

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