Escrevo este pedaço de texto antes dum
jogo de futebol importante. Suécia e Portugal vão opor-se para
decidir que equipa estará presente no mundial do Brasil, e seria
agora fácil adivinhar os rumos deste conversa. As mentes afectas ao
mundo desportivo estarão a imaginar uma crónica futebolística, uma
dissertação acerca da necessidade de um Patrício moralizado ou um
Ronaldo igual a si mesmo. Os mais interessados por política
internacional poderiam imaginar uma discussão acerca do fervor
nacionalista latente, do jeito com que os campeonatos de selecções
alinham as agulhas patrióticas, da mesma forma que em formato
violento o fizeram as guerras dos séculos passados. Talvez haja
ainda quem se enamore por jornalismo cor-de-rosa, e nessas cabeças
se imagine um post de manifesta indignação por faltarem entrevistas
ao Figo e companheira sueca Helen, a indagar se a emoção do futebol aliada ao patriotismo supracitado têm capacidade sísmica para abanar um
lar.
Apesar de gostar de tudo isso –
futebol, política, do Figo e da Helen – não entendo nada dos seus
meandros.
Vou por isso utilizar este espaço para
tirar uma fotografia. Daqui a pouco mais de uma hora, saberei o
resultado do jogo. Agora resta-me a especulação e a incerteza. Com
estas palavras imortaliza-se a dúvida. Quando amanhã copiar e colar
este texto no espaço devido, vou lembrar-me da emoção com que
aguardo o momento e das duas uma: ou rio da patetice de tentar
guardar para sempre a triste incerteza sobre um momento que afinal se
revelou feliz, ou vou tentar por tudo recordar a felicidade da dúvida
acerca de um desfecho desgostoso. Tal como uma fotografia que é
necessariamente incompleta no instante em que se tira, ganhando
significado à medida que avança a história dos objectos que lhe
dão cor. Como efeito paralelo, sei que pela primeira vez escrevo
algo de cariz actual sabendo que será publicado como algo
desactualizado. Serve isto então para medir a curta distância entre a notícia e a história. Sei também que, Figo, se me ouves, obriga a Helen a fazer o mesmo, tirar uma fotografia ou
deixar por escrito e assinado todas as baboseiras mentirosas que são
fruta destas épocas
- Não, claro que vamos viver o jogo
de forma saudável, não haverá retaliações, que ganhe o melhor, desportivismo acima de tudo,
acredita, não há sexo se Portugal for
apurado.
Vou embora. O jogo vai começar.
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