sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

(Desa)bafo do preço da chuva...

Está quente e custa a respirar... O verão começa-se a aproximar e o calor aperta. Como se não bastasse, tens passado os últimos dias a escarafunchar o nariz no rolo de papel da cozinha e tens gasto pequenas fortunas em lenços de papel. Fizeste “shotgun” aos guardanapos lá de casa e eles dormem ao teu lado na cama. Mais ninguém pode usar, são teus. Só não valem folhas A4 ainda porque arranham p’ra caraças e as ideias têm que ficar eternizadas nesse papel. Estás outra vez com aquela tua sinusite impossível, que te deixa o nariz assado de tanto te assuares, a vista a chorar e te dá um mal estar do caraças, sem paciência para nada... Ah, e está um calor impossível.

Acordaste cedo, ainda meio lerdo, porque aqueles teus anti-histamínicos deixam-te totalmente grogue durante os primeiros instantes do dia. Banho, fato, cereais, a rotina de sempre. Fizeste o percurso habitual até ao escritório, mas hoje já não deu para usares as duas alças da mochila do portátil ás costas... A recompensa de a levar no braço foi uma camisa suada e não totalmente encharcada. O dia passou-se e foi mais um daqueles dias no escritório. Nada de novo.
Sais cansado e agastado depois de mais uma jornada de trabalho, depois de mais uma reunião onde descobres que amanhã vai ser pior que hoje, mas pensas que é sexta-feira e não vai ser assim tão mau (mas vai). Quando ainda vais a pensar no amanhã, deparas-te com o dilúvio de hoje. A chuva cai interrompida e violentamente... Pensas: “Porra, esqueci-me outra vez da porcaria do chapéu. A ver se isto passa...”. Passar passa, porque passa sempre, mas isto é São Paulo e vai inundar rápido... Corres até à estação de comboio, estrategicamente colocada junto ao escritório. Vais no sentido do fluxo dos milhões da cidade e já não é só a chuva que sente que sentes colada ao corpo... A humidade daquele trem equiparava-se a Manaus e a densidade era típica de Sampa.

Sais na tua estação, decidido em comprar mais um chapéu para te esqueceres também desse em casa da próxima vez. Pões a mão ao bolso e tens 10 reais: “Opá boa, deve dar!”. Mas não... No Brasil dão-se aulas de Pricing a cada esquina: “Ah, está a chover. Ah, há mais procura! E o chapéu passou a 20 reais!”. Estás sem dinheiro trocado e o caixa multibanco era só lá no cara... Tentas negociar, mas não dá, hoje enquanto chover custa 20, quando parar volta a 10... Vais ao próximo vendedor, mas o cartel estava montado, e pensas: “Foda-se, vou a pé! É já ali...” Mas o já ali, são 2 km... É o preço de morar perto em Sampa.

Pões o pé fora da estação e o caos estava a dar um concerto. O barulho das buzinas era ensurdecedor, o trânsito estava para lá do caótico habitual, as ruas inundadas e a múvuca munida dos seus chapéus estava a fazer-me pontaria ou então estavam demasiado ocupados em tentar chegar a casa rápido... E a chuva caía agora ainda mais violentamente, mais quente, e tu no meio disto tudo, doente, ensopado dos pés à cabeça e com a água a escorrer-te pela ponta das mãos...  Desistes! A chuva a bater-te na cara até te parecia bem, pena estares doente... Os 2km foram feitos com o pensamento no banho quente e na refeição tranquila com os amigos lá de casa... Mas não, esta era a semana das quedas: primeiro uma ala do estádio do Itaquerão (sede inaugural da Copa, pelo menos, acho que o plano se mantém), depois o prédio de 5 andares em construção que ruiu (?!), e finalmente, a árvore da rua ao lado de casa, que se desiquilibrou para cima de 2 carros e resolveu levar a eletricidade do Bairro toda atrás...


Chegas a casa a pingar, sobes a pé porque o elevador não mexe, os sapatos ficam à porta, trocas de roupa e tens que ir jantar fora, porque não consegues cozinhar porque não vês um palmo à frente dos olhos... E aí pensas: “Foda-se, amanhã levo o chapéu, ou pago o preço da chuva”.

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