Nos
últimos dias tenho visto a saudade. Vejo-a atrás de mim, vejo-a a seguir-me. Mais
ninguém a vê, aparentemente. É bonita, não é simpática. Eu vejo-a, bem de
frente, mas ela não me olha, não me quer olhar. É como se estivesse sempre a
olhar para outro lado, a fazer outra coisa, a ver algo mais, mas soubesse sempre onde me encontrar. Não é
como a sombra, não é um mero efeito de luz que nos persegue indiscriminadamente.
A saudade simplesmente está ali. Tenho medo de a tocar, mas sei que conseguia,
se quisesse. Às vezes olho para trás, para ver se ela lá está, e vejo sempre
que sim. Às vezes como se aparecesse de repente quando me viro, como se ainda
tivesse o vestido a voar, acabada de chegar ao local. A saudade é uma mulher, é
sempre uma mulher. Não faz sentido de outra forma. Está sempre impecavelmente
bem-vestida, sempre no seu melhor, sempre como esperamos que esteja. A saudade
é a melhor das mulheres, melhor do que todas as outras. Cheira ao cheiro do
quarto pela manhã, cheira ela e a nós, tudo junto e misturado. Quando me deito
ela vem comigo, eu vejo-a a entrar na cama, sem desmanchar os lençóis, e a
virar-me as costas para que eu a vá abraçar e aquecer. Não lhe toco, mas
viro-me para ela. Tenho adormecido a ver-lhe os cabelos, a ouvir-lhe a respiração
que eu sei que está lá. Deixo-lhe o pijama dela na almofada, mas sei que não
precisa. Quando sonho, vejo-a a olhar-me nos olhos. Não sei se é a saudade ou
se é mesmo ela, mas olha-me nos olhos, e eu abraço-a. Acordo de seguida. A
saudade já não está ali, comigo. Ela volta quando lhe apetece, ou quando me
apetece. Volta quando tem de voltar. Pena ter de voltar tantas vezes.
Belo e tocante. Obrigado
ResponderEliminar