Há uns dias vinha a ouvir no rádio a
transmissão do I Encontro da Canção Portuguesa. Nem costumo ouvir
muito rádio, mas eis que sem o procurar, a Antena 1 me deleita com a
lembrança de um episódio da nossa história que achei tão bonito e
curioso. Nesse evento, a 29 de Março do mesmo ano da revolução de
Abril, não faltaram os momentos em que a união dos presentes,
especialmente contra a censura, deram a entender a podridão do
regime que menos de um mês depois viria a cair. Essa é para mim a
parte bonita. A parte curiosa advém de comparar as reacções do
público, face ao quarteto de Marcos Rezende e ao Carlos Paredes. O
primeiro tocou jazz. Ouviram-se assobios, a malta queria era uma
letra para cantar. O quarteto não conseguiu terminar a actuação,
sendo literalmente escorraçado. Depois, entra o Carlos Paredes com a
Verdes Anos. Nem uma palavra da audiência, só silêncio e emoção,
apesar da igual inexistência de letra ou vozes. E pronto. Na falta
de melhor resumo, tenho para mim que a virtude do Carlos Paredes foi
conseguir falar com uma guitarra. Sem usar palavras, mas a saber dizer tanto.
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