domingo, 28 de março de 2010

Uma experiência socialista (II)

decidi fazer um post a partir de um comentário:

(ver antes aqui ou, originalmente aqui)



Primeiro, não sei se um tão redutor modelo mereça ser comentado como se de algo socialmente abrangente se tratasse: tentar comprar um um episódio de um semestre numa sala de aula a um modelo de organização social directamente responsável pela vida de milhões de pessoas deixa no ar a legitimidade de criar nos mesmos moldes um paradigma simplista de modelo capitalista... Nesse modelo, supondo-se que o expoente máximo na sala de aula é, como defende, a recompensa pessoal, necessitaríamos logo à partida, de garantir o pé de (total) igualdade de todos os intervenientes. Só assim se conseguiria uma competição saudável. Explico: Partimos do pressuposto que existem objectivos comuns a toda a turma. Se só uma parte da turma os consegue alcançar, os que sabem ser uma meta impossível à partida, não se irão esforçar. E aí caímos no bicho-de-sete-cabeças que preconiza, ou seja, a falta de esforço individual. Se conseguir isto do pé de igualdade, avise, e serei seu companheiro pró-capitalista ou pró-individualista ou o que lhe queira chamar.
Em segundo lugar, num outro ponto de vista, permita-me que lhe agradeça. A experiência falhada que relatou, contém em si mesmo um elogio ao esforço de cada um pelo todo. Se é sabido que a falta de esforço levará invariavelmente à desgraça da sociedade, parece-me óbvio que, pondo de parte sentimentos masoquistas, ninguém irá desejar ver a sua falta de empenho o rastilho para a explosão social. Ou seja, a sociedade ganha consciência de que o todo não é nada sem o trabalho empenhado das partes. E, obviamente, uma parte não é nada sem a sua inserção num todo. Se o senhor vive consigo mesmo numa autarcia individual avise, também quero a receita.Em terceiro lugar, não peço que se esperem milagres de uma sociedade onde os valores individuais estão enraizados em tamanha solidez.
O seu post é a prova de que muito há a mudar na mentalidade (desculpe dizer, mesquinha), do mundo de hoje. O próprio Marx reconhecia um modelo de transição, após a superação do capitalismo: “Em conformidade, o produtor individual recebe de volta — depois das deduções — aquilo que ele lhe deu. Aquilo que ele lhe deu é o seu quantum individual de trabalho. Por exemplo, o dia social de trabalho consiste na soma das horas de trabalho individuais. O tempo de trabalho individual do produtor individual é a parte do dia social de trabalho por ele prestada, a sua participação nele. Ele recebe da sociedade um certificado em como, desta e daquela maneira, prestou tanto trabalho (após dedução do seu trabalho para o fundo comunitário) e, com esse certificado, extrai do depósito social de meios de consumo tanto quanto o mesmo montante de trabalho custa. O mesmo quantum de trabalho que ele deu à sociedade sob uma forma, recebe-o ele de volta sob outra.” Karl Marx

Aposto que este modelo de transição o deixa satisfeito.

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