Luís Fernando Veríssimo começa um conto (do começo) de “Peças Íntimas” com um “Merda! – disse a Madre Superiora”, e eu invejo a sua capacidade de começar uma história.
É definitivamente difícil explorar uma ideia sem cair nos iniciais advérbios de modo que dão um ar sério e formal a mais uma parvoíce sem significado. E como sou um ser preguiçoso, vou partilhar com os nossos caros 3 leitores ideias para uma eventual história – podem imaginar como seria boa se fosse escrita pelo nosso Fernando.
- A maneira mais fácil que a Ana encontrou para partilhar com os pais que tinha um namorado foi informar que estava grávida, e que o bacanal foi tamanho que teria sorte se a criatura não nascesse peluda ou a ladrar. Passado um dia diria que era brincadeirinha, e que apenas tinha arranjado um namorado. E lavadinho.
- Se a história da Cinderela fosse pensada hoje, experimentaria ela sapatos ou sutiãs? E se no âmago da procura do par desaparecido se encontrasse a experimentação de roupa íntima, seria melhor se fosse um filme infantil ou pornográfico?
- Imaginem uma praia cheia, ambiente absolutamente perfeito, mamas, sol intenso… quando se junta uma multidão ali fundo, barulho, confusão, pedido de ajuda, ambulância, mais multidão. A câmara aproxima-se sorrateiramente, furando o aglomerado de pessoas, fala-se em respiração boca a boca, primeiros socorros, etc. De repente silêncio profundo, e percebe-se o que se passou. A cerveja morreu.
- Ainda em ideias para crianças, se a Bruxa de hoje fosse uma pessoa verdadeiramente doentia, acham que a Branca de Neve morria com um tampão envenenado?
- Preservativos fluorescentes parecem ser uma ideia divertida. Vem logo a possibilidade de brincar com sorrisos brilhantes, quando a luz falha, no baptizado do primo, no dia seguinte. O Marido estava em França.
- Pensada pelo Tiago Novo. Obrigado. Gostava de ter uma Amália na minha vida, fulminar um bruto sentimento unilateral não partilhado, só para tornar a dor da história mais bonita. E ela perguntaria “Vens?” e eu responderia “Vou Amália”, e pensava baixinho “Vou Amália para sempre”.
Um dia escrevo uma destas a sério.
“Merda! – disse a Madre Superiora. Não se assuste, é que eu sempre quis começar um conto assim. Na verdade, o conto não tem nada a ver com isso. Na verdade, o conto termina aqui.”
A inveja é um sentimento feio.